O que é a Mordomia Cristã
O que é a mordomia cristã? Ao entender o seu significado, o crente vê o mundo como propriedade divina e passa a administrar sua vida de modo diferente.
Ao estudar a palavra de Deus você se capacita espiritualmente para estar exercendo a mordomia cristã conforme os princípios bíblicos.
Texto Bíblico Lucas 12.42-48
Neste artigo você estudará sobre:
ToggleO termo Mordomia
“Teus são os céus, e tua é a terra; o mundo e a sua plenitude, tu os fundaste”. (Sl 89.11).
O termo “mordomia” tem sido muito divulgado pela imprensa em geral para designar regalias no exercício da função pública.
Entretanto, no contexto bíblico, a palavra “mordomia” fala da consciência que o crente deve ter de que tudo o que possui vem de Deus, sendo ele apenas um administrador fiel.
A fidelidade é decorrente da certeza de que a qualquer momento, seremos chamados a prestar contas diante de Deus.
Por isso, a vida e os seus valores devem ser vividos e administrados sob o ponto de vista de Deus. Na verdade, a Mordomia cristã é o manejo responsável dos recursos do reino de Deus que foram confiados a uma pessoa ou a um grupo. (Conciso Dicionário de Teologia Cristã – Millard J. Erickson). Mordomia é Administração (Lc 16.2,RC).
Mordomo – Pessoa encarregada da administração de uma casa (oikos); administrador. (Gn 39.4-8,RA; Lc 12.42). (Dicionário da Bíblia de Almeida)-(SBB).
Despenseiro: 1)- Pessoa encarregada da Despensa, (Cômodo em que se guardam mantimentos) – (Gn 43.16,RA); 2)- O cristão como administrador dos seus Dons (1 Pe 4.10); 3)- O obreiro como responsável por cuidar das coisas de Deus (1 Co 4.1; Tt 1.7). DBA-SBB.
Mordomia é o ofício do Mordomo.
Mordomo, (no grego oikonómos) – Administrador dos bens de uma casa ou de um estabelecimento alheio. (Pequena Enciclopédia Bíblica – O.S. Boyer).
O Fundamento Bíblico da Mordomia Cristã
É através da doutrina da mordomia cristã que os princípios básicos da vida do crente são expostos (Lc 12.42). O conhecimento da “doutrina da mordomia cristã” dá ao crente uma maior perspectiva da vida no seu dia-a-dia.
A doutrina bíblica da “mordomia” centraliza seus princípios na soberania de Deus (Sl 24.1), nos colocando como “mordomos”, de preferência fiéis (1 Co 4.2).
a) Do Senhor é a terra
Para se compreender o princípio bíblico de mordomia, precisamos saber que: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl 24.1). Nosso papel aqui é apenas reconhecer a soberania divina sobre todas as coisas e exercer a função profícua de mordomos, pois nada levaremos daqui (1 Tm 6.7).
Por isso, devemos exercer com fidelidade a mordomia cristã conforme a bíblia nos ensina, para que tenhamos direito ao descanso eterno (Mt 25.21). “Deus é o rei de toda a terra” (Sl 46.7), e é também o “rei do céu” (Dn 4.37), que está acima de todos os reis da terra, (Dn 2.20-21).
Vivemos hoje numa sociedade que perdeu a noção do senhorio de Deus sobre a terra. Vemos uma filosofia que coloca o homem como o centro de todas as coisas, excluindo a ideia do reinado de Deus.
Diante disso é preciso resgatar e anunciar a mensagem bíblica acerca de Deus, o rei de toda a terra, que deve reinar absoluto em nossas vidas. “O Senhor reina” (Sl 47.7; 93.1; 96.10; 97.1; 99.1).
b) Toda a Criação é do Senhor
A Bíblia afirma que Deus é o autor de toda a Criação: “Pela fé entendemos que os mundos, pela Palavra de Deus, foram criados…” (Hb 11.3a). O Gênesis mostra a criação de forma ordenada e gloriosa (Gn 2.1), destacando sempre o poder criador de Deus (Gn 1.24,25).
A doutrina da Criação traz ao homem a responsabilidade pela preservação do que Deus fez como mordomo de seu próprio mundo (Gn 1.29; Dt 20.19).
A criação do homem à imagem de Deus foi acompanhada da entrega de grande responsabilidade. Nenhuma outra criatura recebeu tantos privilégios de Deus como o homem. Deus concedeu ao homem domínio sobre toda a terra e sobre todos os animais, (Gn 1.26).
Dessa forma o homem tornou-se proprietário de todas aquelas coisas boas que Deus havia criado, com plenos poderes para sujeitar todas as coisas e dominar sobre tudo.
c) O homem, criação de Deus
A criação do homem foi por ato espontâneo de Deus (Gn 1.26). O homem passou a pertencer ao Senhor por um direito de criação. Ele declarou através do profeta Isaías, dizendo: “Eu fiz a terra, e criei nela o homem, eu o fiz…” (Is 45.12).
A vida do homem veio direta de Deus (Gn 2.7), tornando-o pessoa com consciência de si mesmo e com livre arbítrio (Gn 2.16,17; 4.7). Por isso, devemos viver conscientes de nossa mordomia, pois um dia prestaremos contas a Deus (Ec 12.7).
Isso, porém, não é tudo! Segundo o Salmo 8.5 Deus o fez “um pouco menor do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste”. Glória e honra são atributos do próprio Deus. A cada um de nós foi confiado uma responsabilidade.
Nossa esfera de domínio começa em nós mesmos, circunda nossos relacionamentos e espalha-se pelas estruturas da sociedade em que trabalhamos e vivemos.
O Senhor nos deu glória e honra como seus agentes e mordomos da vida. Concedeu-nos o intelecto, as emoções, a vontade e o corpo a fim de desfrutarmos do deleite de viver. Temos que dar contas a Ele do que fizermos com o potencial que nos outorgou.
Os Princípios Divinos na Mordomia
Deus, em sua soberania, jamais desprezou sua Criação, mas a cada dia, através do seu Espírito, Ele renova a face da terra: “Envias o teu Espírito e são criados, e assim renovas a face da terra” (Sl 104.30).
Dessa maneira o Senhor nos ensina princípios divinos com relação à mordomia dos bens espirituais, morais e materiais (Lc 16.2).
Assim, ao criar o homem, Deus o dotou de qualidades específicas para dominar, governar, frutificar, multiplicar-se e também criar situações novas para o seu bem-estar e felicidade. Pois o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, possuindo também um aspecto espiritual. Essas coisas Deus não retirou do homem, (Nm 23.19; 1 Sm 15.29).
a) Ela nos ensina o propósito da vida
A vida humana foi dada por Deus com um propósito glorioso (Is 43.7). A partir daí, nossa relação com o Criador é de total dependência de sua graça e misericórdia (Sl 52.8).
A vida ganha novo sentido espiritual e material quando entendemos que o cuidado divino faz parte de um propósito glorioso para com suas criaturas (2 Co 1.8-10; 1 Pe 5.7).
A vida da humanidade vem passando por várias transformações, e à medida em que o homem, abusando dos poderes que lhe foram concedidos por Deus, vai dominando a natureza de forma incontrolável e impiedosa, ele próprio colabora para um terrível desequilíbrio, que é notado em todos os aspectos da vida.
Mas ninguém deve pensar que Deus está alheio aos acontecimentos. Chegará o dia em que todos serão julgados, (1 Co 3.13-15; Ap 20.11,12).
b) Ela nos ensina o governo de Deus
O Senhor criou o mundo e não o desamparou, Ele está no governo de todas as coisas (Jó 34.13; Sl 22.28). Ele controla os mares (Jó 38.8-11), e até mesmo Satanás está debaixo de suas ordens (Jó 1.12; 2.6).
Os grandes líderes mundiais também não podem fazer o que querem, pois o seu coração está nas mãos do Senhor (Sl 33.15; Pv 21.1); Ele governa as nações (Sl 22.8).
c) Ela nos ensina a administrar os bens espirituais
Tudo o que recebemos na vida espiritual vem do Senhor (Cl 1.16), Ele é o doador dos bens espirituais (Tg 1.17) e da nossa salvação (Jo 3.16), de maneira que nossa vida espiritual deve ser administrada com sabedoria (2 Jo 8).
Não podemos desprezar a nossa salvação (Hb 2.3), nem nossa confiança no Senhor (Hb 10.35), pois um dia iremos prestar contas a Ele pela maneira como administramos os bens espirituais (Ap 22.12).
Observação: Os “talentos” recebidos (Mt 25.15), representam os poderes que Jesus Cristo tem dado e ainda dá à sua igreja. Todos os crentes têm vocação espiritual, são chamados para pertencer a Cristo, a testemunhar e a trabalhar por Ele. Isto não admite exceção ou desculpa.
Portanto, para que cada discípulo possa cumprir sua responsabilidade, Ele dá a cada discípulo certos dons espirituais e capacidades (Rm 12.5-8,11,13,15). Tais dons são possíveis pelo Espírito de Deus que habita em cada crente.
Jesus, o Mestre Excelente da Mordomia
Jesus é o nosso mestre por excelência quanto à vida cristã: “Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1 Pe 2.21).
Ele deixou-nos um grande exemplo de mordomia sujeitando-se aos propósitos do Pai para sua vida terrena (Fp 2.6-8).
Ele soube administrar seu tempo (Jo 2.4), para que todas as coisas ocorressem na hora de Deus: “Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti” (Jo 17.1).
a) Ele ensina através de sua vida
A vida de Jesus foi administrada segundo os padrões celestiais (Jo 8.29; 10.38). Nada fez de si mesmo, tudo era por instrução divina (Jo 5.19), sua vida foi de total sujeição a Deus, o Pai (Jo 6.38). Ele foi o mordomo fiel que cumpriu toda a justiça divina (Mt 3.15).
Mas, precisamos lembrar que um mordomo nos tempos bíblicos era, em geral, um escravo pessoal, como José na casa de Potifar (Gn 39.4).
O mordomo exercia as funções de administrador dos bens de seu senhor e recebia muitos benefícios, porém tudo quanto era e possuía pertencia a seu senhor.
Desse modo, realizava todos os negócios em nome de seu senhor e como bom mordomo consagrava à tarefa de promover os negócios de seu senhor. Buscava a honra de seu senhor e não a sua, e tudo quanto ganhava era ainda de seu senhor.
b) Ele ensina através de seu exemplo
Pedro afirma que Jesus deixou-nos “o exemplo para que sigamos suas pisadas” (1 Pe 2.21). Seu grande exemplo foi o amor demonstrado em todos os momentos de seu ministério terreno (Jo 15.13).
Jesus soube “administrar” o amor divino em doses especiais para cada situação que se apresentava diante de si (Jo 15.9). Ele amou uma pobre mulher (Jo 8.10,11), amou um jovem rapaz (Mc 10.21), amou os seus discípulos até o fim (Jo 13.1) e, por amor, suportou a cruz (Hb 12.2).
c) Ele ensina através dos milagres
Os milagres realizados por Jesus sempre tiveram o propósito de nos ensinar a lidar com os dons divinos (Mt 17.19,20). Diante de uma multidão, Jesus multiplica os pães e os peixes: “Está aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas isto que é para tanta gente?” (Jo 6.9) e os alimenta: “Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles: e também igualmente os peixes, quanto queriam” (Jo 6.11).
Entretanto, para dar-nos o exemplo de bom “mordomo”, Jesus mandou recolher as sobras (Jo 6.12,13). Mordomia é saber administrar bem aquilo que o Senhor nos dá, evitando o desperdício.
Nesse grandioso milagre da multiplicação dos pães e peixes aprendemos que o cristão deve ser generoso e econômico. Há abundância nas bênçãos de Deus, mas não há lugar para desperdício e estrago. Todo esbanjamento na vida do cristão, seja nas coisas materiais ou nas coisas espirituais, é antibíblico e estranho aos planos divinos.
Também aprendemos que o pouco se transforma em muito quando Deus abençoa. Portanto, ninguém confie no muito sem a bênção de Deus. Assim sendo, nós, em lugar de lamentarmos por não termos certas coisas (possessões espirituais e materiais), coloquemos aquilo que temos à disposição de Deus.
A Mordomia gera Bênçãos Divinas
Compreender a mordomia cristã como uma oportunidade de melhor servir ao Senhor é uma grande bênção (Jo 12.26).
Tudo sucede quando entendemos que o Senhor é dono de todas as coisas (Jo 1.3) e que somos apenas serviçais para cumprir o propósito divino (Jo 2.5).
Quando agimos assim as bênçãos divinas nos alcançarão (Dt 28.2).
a) Ela amplia nossa visão do reino de Deus
O verdadeiro mordomo espiritual não é aquele que apenas “vê” o reino, mas que “entra” (Jo 3.3,5). A partir daí tudo muda na nossa relação com Deus e com sua obra (Gl 2.20).
Tudo passa a ser santo e sagrado diante da grandeza do reino de Deus (Tt 1.15). Somos agora cooperadores de Deus para construção de um reino espiritual na terra (1 Co 3.9). Jesus oferece um “reino” a seus seguidores fiéis, (Lc 22.29).
Nós, que somos seus discípulos não devemos estar ociosos, mas precisamos zelosamente promover os interesses do seu reino, enquanto Ele não vem, e fazer tudo que pudermos por ele até a sua volta.
O reino dos céus é o governo de Deus no coração dos homens. É onde a autoridade de Deus é reconhecida.
b) Ela nos outorga mais responsabilidade
O conceito cristão de mordomia nos faz crescer o senso de responsabilidade (1 Co 9.17). Temos responsabilidade com nossa vida, nosso corpo, com a igreja e os nossos semelhantes (Mt 7.12).
Desse modo, nossa responsabilidade se amplia quando sabemos que iremos prestar contas a Deus (2 Co 5.10).
Por isso, devemos aproveitar o tempo que nos resta para pregarmos o Evangelho (2 Tm 4.2) e fazer o bem a todos (Gl 6.9,10).
c) Ela nos faz dependentes de Deus
Cientes de nossa fragilidade (Sl 103.14,15) e da incapacidade para desempenharmos bem nossa mordomia, devemos depender totalmente do Espírito Santo (Rm 8.26). Ele nos ajudará em nossa tarefa de administrar os bens temporais e espirituais recebidos do Senhor (1 Pe 4.11).
Aceitemos, pois, o que disse Jesus: “… porque sem mim nada podeis fazer” (Jol5.5).
Assim, como mordomos de Deus, a nossa profissão deve ser escolhida e exercida conforme a vontade de Jesus Cristo, e para seu serviço e louvor.
A nossa família deve ser constituída e administrada conforme a vontade e glória de Cristo.
O nosso tempo deve ser gasto na consciência de que estamos na presença de Cristo. Nossos talentos devem ser colocados a serviço de Cristo.
Nosso corpo, templo do Espírito Santo, deve glorificar a Cristo.
Nossos bens materiais devem ser adquiridos e administrados com a consciência de que tudo pertence a Ele e deve ser usado para glorificar a Cristo.
Conclusão
Como mordomos de Deus devemos entender que tudo pertence ao Senhor e que Ele manifestou em sua Palavra os nossos deveres para com sua Criação.
É necessário que saibamos que, mordomia é um princípio divino para abençoar as nossas vidas enquanto aqui vivermos.
Portanto, se formos bons mordomos seremos recompensados pelo Justo Juiz naquele dia, senão, sofreremos o dano por nosso desprezo a administração aos bens temporais e espirituais. Vivamos, pois, certos de que, como despenseiros, devemos ser fiéis.