Resistindo às sutilezas de Satanás
Chegamos ao final de mais um trimestre maravilhoso, porém, depois de estudarmos uma série de embaraços sutis, vamos agora finalizar o trimestre estudando acerca do agente e autor de todas as sutilezas contra a igreja do Senhor. Essa seção da epístola de Tiago é, em outras palavras, um chamado à santidade. A carta é dirigida aos cristãos do primeiro momento da história sagrada. Tiago mostra que resistir ao Diabo já era um bom começo. A presente lição esclarece por que devemos resistir às paixões e mostra ainda que a amizade com o mundo é inimizade contra Deus.
TEXTO BÍBLICO (Tg 4.4-10)
Neste artigo você estudará sobre:
ToggleOs deleites da Vida são vias de ataques sutis do inimigo contra o Crente
Tiago emprega aqui uma metáfora que ainda hoje usamos em nossos debates, discussões e conversas sobre dificuldades nas mais diversas áreas da vida.
Guerras e pelejas (v.1).
Há quem afirme que essas guerras e pelejas sejam uma referência às disputas internas que havia entre os judeus de Jerusalém nos levantes contra Roma. A população da Judeia estava dividida nessa época sobre a luta pela libertação do poder romano. Mas não é disso que Tiago está falando aqui. Essas palavras metafóricas são pesadas e mostram o nível das disputas entre os crentes por causas dos deleites, ou seja, os maus desejos interiores (v.2). Não se trata aqui de debates teológicos entre os mestres. A expressão “guerras e pelejas” refere-se às discussões acirradas sobre “o meu e o teu”, e isso é muito grave.
Os deleites.
Ou maus desejos que eram a motivação dessas pelejas: “dos vossos deleites” (v.1). 0 termo “deleites” (vv. 1,3) é hedoné que aparece cinco vezes no Novo Testamento para descrever deleites ou prazeres ilícitos (Lc 8.14; Tt 3.3; Tg 4.1,3; 2 Pe 2.13). Originalmente significava o prazer experimentado pelo sentido do paladar, posteriormente por meio dos outros sentidos e da mente; no período helenista, o conceito se restringiu ao significado de “gozo sensual, deleite sexual“. É a procura indiscriminada do prazer. O hedonismo permeia o pensamento pós-moderno. Hoje, qualquer esforço disciplinado ou o mínimo de sacrifício para se atingir um objetivo são tratados com profundo desgosto.
Cobiçosos e invejosos (v.2).
A versão bíblica ARC (Almeida Revista e Corrigida) omite aqui o verbo “matar” que consta do texto grego: “Vocês cobiçam e nada têm; matam e sentem inveja” (Nova Almeida Atualizada). Esse homicídio não é literal; diz respeito ao ódio, que é como homicídio aos olhos de Deus (Mt 5.21,22; 1 Jo 3.15). A cobiça é o desejo excessivo de possuir o que pertence ao outro, e a inveja é um sentimento de tristeza e pesar pela alegria, felicidade e sucesso de outra pessoa. O cristão deve se contentar com o que tem (Lc 3.14; Fp 4.12; Hb 13.5). Cabe aqui ressaltar que esse ensino não é uma apologia à pobreza e à miséria, pois não é pecado desejar e buscar, de maneira lícita, tudo o que é útil à vida, desde que os nossos desejos sejam afinados com os de Deus.
Adúlteros e adúlteras (v.4).
Tiago continua a linguagem metafórica usada desde o Antigo Testamento para descrever a apostasia de Israel e sua infidelidade a Javé, seu Deus. A infidelidade a Deus é em si mesma um adultério espiritual. Tiago especifica que se trata de um assunto que envolve homens e mulheres. Assim como a intimidade, o amor, a beleza, o gozo e a reciprocidade que o casamento proporciona fazem dele o símbolo da união e do relacionamento entre Cristo e a sua Igreja (2 Co 11.2; Ef 5.31-33; Ap 19.7). A antítese segue nessa mesma linha de pensamento, pois de igual modo a infidelidade de Israel, da Igreja ou de um cristão é chamada na Bíblia de adultério espiritual, ou prostituição e fornicação espiritual (Jr 3.8; Ez 16.32; Ap 2.20).
Argumento Doutrinário
“A vida cristã inteira é uma guerra, mas, como em todas as guerras, há dias de calma e dias de ataque’. O ‘dia mau’ na guerra espiritual é aquele que especialmente ameaça o nosso caráter moral e espiritual. O dia mau de José veio quando ele foi tentado, mas resistiu vitoriosamente; o dia mau de Pedro veio quando estava no pátio do sumo sacerdote, e para ele era duplamente mau, porque negou o seu Mestre. ‘Se fôssemos avisados de antemão que a provação ou tentação se aproxima, poderíamos vigiar e esperar por ela’ (Lc 12.39).
Infelizmente, essas coisas vêm de modo repentino e nos pegam desprevenidos. Sendo que o dia mau certamente virá, sendo que poderá vir a qualquer tempo, e sendo que é mais provável vir quando menos esperamos, a prudência exige que estejamos preparados. Como podemos nos preparar? Os soldados se preparam para guerra ao aprenderem a usar armas em tempos de paz. O guerreiro cristão se prepara para o dia mau pelo exercício constante dos meios da graça. A resistência à tentação repentina é mais vigorosa quando a bondade se torna um hábito arraigado. ‘A pessoa que põe em prática a cada dia os preceitos da Palavra de Deus é armada para enfrentar um ataque repentino’” (Epístolas Paulinas, CPAD, p.124).
Resistindo ao Inimigo
A ideia de Tiago, ao concluir essa seção da epístola, é a mesma exortação que fez o apóstolo Pedro, inspirado por Levítico 11.44; 19.2; 20.7: “mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pe 1.15,16).
Tiago apresenta a receita para resistir ao Inimigo.
Ele mostra que o Espírito Santo está em nós (v.5), o que é confirmado em outras partes do Novo Testamento (1 Co 3.16; 6.19; Ef 2.22). Na verdade, o cristianismo é a única religião do planeta que tem o Espírito Santo (Jo 14.16,17). Assim, o Espírito Santo em nós não quer um coração dividido: “É com ciúme que por nós anseia o espírito, que ele fez habitar em nós?” (v.5, Nova Almeida Atualizada). Essa vantagem nos permite viver uma vida santa e resistir ao Inimigo. Nisso temos a ajuda de Deus, que “resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes” (v.6).
A submissão a Deus.
Essa submissão e humildade a Deus é descrita de várias maneiras, como “resistir ao diabo” (v.7) e se aproximar de Deus; limpar as mãos, “vós de duplo ânimo” (v.8). O duplo ânimo diz respeito aos crentes indecisos e divididos em suas decisões entre Deus e o mundo (Tg 1.8). Jesus disse que ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6.24). As mãos são instrumentos das ações e o símbolo de toda a conduta. Para que elas sejam limpas, é necessário primeiro um coração purificado (Sl 24.4; 1 Pe 1.22).
Os lamentos e os resultados.
Tiago continua com as suas exortações: sentir as nossas misérias, lamentar, chorar, substituir o riso pelos lamentos, sentir angústia e nos humilhar diante de Deus (v.9). Essas exortações resultam em bênçãos, entre elas, a de que o Diabo fugirá de nós, e o Senhor nos “exaltará” (v.10). Trata-se de uma vitória completa em Cristo.
A conduta do Crente na Batalha Espiritual
(Efésios 6.5-13).
A partir do v.10, a Bíblia discorre sobre a batalha espiritual inevitável do crente contra as forças do mal. Queiramos ou não, a partir da queda do homem por seu pecado no Éden, iniciou-se uma batalha. Gn 3.15 indica a causa e a razão dessa batalha que começou na inimizade declarada entre a “antiga serpente”, o Diabo, e “a semente da mulher”, Jesus. O cumprimento desse conflito cósmico teve seu clímax no Calvário, quando Jesus declarou a derrota de Satanás. Só podemos enfrentar e vencer esta batalha usando as armas espirituais providas por Deus, relatadas aqui no texto bíblico. É preciso estar preparado para esta batalha espiritual mediante os três elementos ensinados nos vv.10,11.
Fortalecimento (v.10).
Na batalha espiritual só estão aptos para participar dela os que pertencem ao Senhor, por isso, o apóstolo diz: “irmãos meus”. Não se trata de um mero fortalecimento físico ou intelectual, mas é um fortalecimento “na força do seu poder”. Em outras palavras, nenhum crente entra nesta batalha com armas materiais ou físicas. É preciso estar cheio do poder do Espírito.
Conhecimento (v.11).
O leitor perguntaria: Que tem a ver conhecimento com armadura? Para termos a armadura de Deus, precisamos conhecer todo o equipamento dessa guerra espiritual. Precisamos estar revestidos da armadura de Deus, a sua panóplia, isto é, ter todas as armas necessárias para um combate. A armadura espiritual incompleta torna o crente vulnerável aos ataques satânicos.
Treinamento (v.11).
Um soldado precisa ser forte, conhecer e treinar o suficiente para entrar na batalha. A Igreja de Cristo é o quartel-general, onde os soldados são equipados e preparados. Somos treinados através do ensino sadio da Palavra de Deus (2Tm 3.16,17).
Conclusão
Resistir ao Inimigo, no contexto de Tiago, resume-se em que cada um de nós sujeitemos-nos à vontade de Deus e cheguemos-nos a Ele; e devemos ainda purificar as mãos e limpar o coração. É essa dependência de Deus que nos leva à vitória em Cristo.