A Salvação e o Advento do Salvador
Jesus se fez homem, deixou parte da sua glória, se humilhou e se fez maldição por nós para que pudéssemos ter comunhão com o Pai e ter então direito legal à vida eterna.
Texto Bíblico (João 1.1-14)
Neste artigo você estudará sobre:
ToggleDefinindo o termo Salvação
Soteriologia é a disciplina teológica que trata da salvação. Seu nome deriva do grego “sotería” (salvação) + “logía” (estudo).
Na teologia cristã histórica, percebe-se que a salvação é tão somente pela graça divina. Diante dela o ser humano torna-se disposto a crer e confiar em Deus, passando a viver na dependência dessa graça.
Definição etimológica.
Na língua original do Novo Testamento, a palavra sōtēria, além de salvação, traz as seguintes significações: “libertação de um perigo eminente. Livramento do poder e da maldição do pecado. Restituição do homem à plena comunhão com Deus” (Dicionário Teológico).
Definição teológica.
Doutrina segundo a qual, Deus, em seu insondável amor, ofereceu o seu Unigênito para salvar pela graça, por intermédio da fé, os que o aceitam como o único e suficiente Salvador (Ef 2.8-10).
A salvação é amorosamente inclusiva; contempla a humanidade por inteiro, visto que todos nós, em Adão, caímos no pecado pela transgressão da Lei de Deus; logo: todos precisamos ser resgatados por Cristo. Ler Rm 5.12,17,18; Gl 4.4,5; Is 43.27.
A palavra salvação em geral se refere a qualquer livramento: ser salvo da morte em um acidente. Em sentido bíblico se refere à libertação do pecado, do livramento da condenação do pecado e significa também o retorno à comunhão com Deus.
Salvação também inclui um estado futuro, uma certeza de que, sendo salvos, viveremos para sempre com Jesus, pois Este nos concedeu uma eterna salvação.
A Salvação no Antigo Testamento
O consenso prevalente entre sábios religiosos parece ser que há uma divisão intransponível entre Judaísmo e Cristianismo.
Por certo há diferenças definidas na prática dos dois sistemas religiosos, mas elas têm um número significativo de características comuns.
Os cristãos adoram o Messias que era um judeu praticante durante Sua vida. Todos os autores do Novo Testamento, com uma exceção, eram judeus praticantes.
O Antigo Testamento, que os cristãos reverenciam como a Palavra de Deus escriturada, é um escrito distintamente judeu. Se este é o caso e Deus, Jeová, nunca muda, então o plano de salvação, restabelecendo a amizade entre pessoas pecadoras e Deus, deveria ser o mesmo.
O plano da salvação aponta para o advento de Cristo, o Messias
Este plano de salvação foi formulado mesmo antes da criação do universo material (1 Pedro 1:20. “O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós;”).
Enquanto a manifestação não foi dada àqueles do tempo do Antigo Testamento, o princípio, significado e eficácia do plano de salvação foram claramente conhecidos.
Como Paulo escreveu em 1Coríntios 10:11 “Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos.”
Enquanto os exemplos mencionados são manifestações da ira de Deus sobre Israel quando eles desobedeceram ou se perderam de Deus, o remédio, um sacrifício de sangue, foi experimentado no altar (1Co 10:18).
Claro que no Antigo Testamento só uma pessoa, o alto sacerdote, tinha permissão de acesso à Arca da Aliança e então apenas uma vez ao ano, durante o Yom Kippur (o Dia do Perdão). Isto levaria alguém a acreditar que aqueles fora da classe sacerdotal não entenderiam completamente o que estaria ocorrendo durante este sacrifício.
Porém, está razoavelmente claro pelas Escrituras do Antigo Testamento que bastante foi entendido sobre o caráter e a natureza de Deus, para conhecer Sua atitude sobre o pecado e os requisitos para remediar a separação que o pecado impôs entre o pecador e Deus.
Mesmo antes do estabelecimento da nação israelense, a necessidade do sacrifício de sangue foi entendida. A oferta de Abel das “primícias” do seu rebanho atende a essa estipulação. Isto está claramente implicado, se não especificamente afirmado, no Novo Testamento.
Em João 5:39.
lemos: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;” O testemunho era mais que somente a vinda do Messias. Ela incluía Sua morte sacrificial.
Em Lucas 24:27. se afirma: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.” Já que a afirmativa inclui todas as escrituras, ela também deve incluir o sacrifício do Cordeiro de Deus.
Novamente Lucas afirma em Atos 17:11. referindo-se aos crentes Bereanos: “Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” Para Paulo, as “coisas” sempre incluíam a morte, sepultamento e ressurreição do Messias.
Há mais de cinquenta referências às “escrituras” no Novo Testamento. Já que esses escritos não estão se referindo a si mesmos, eles devem estar se referindo ao Antigo Testamento.
Exceção
A única exceção a isso é 2Pedro 3:15-16. “15 E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; 16 Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição.”
O restante das referências do Novo Testamento às “escrituras” se referem ao texto hebraico do Antigo Testamento. O seguinte exame das Escrituras do Antigo Testamento ilustrará o plano de salvação, como lá registrado, àqueles que só se familiarizam com as Escrituras do Novo Testamento e também àqueles que só usam as Escrituras no Antigo Testamento.
A primeira coisa que deve ser entendida ao se considerar o plano de salvação é o relacionamento entre humanos e o infinito e soberano Deus.
Em Salmos, 11:7. lemos:
“Porque o SENHOR é justo, e ama a justiça; o seu rosto olha para os retos.” Devemos acrescentar “apenas” o reto contemplará Sua face.
Quem pode afirmar ser “justo” e “reto”? Considere o que o profeta Isaías disse no capítulo 64:6. “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam.” Nos arrebatam de que? Da presença e da amizade de Deus.
Mesmo aquelas coisas que nos parecem obras “boas” ou “justas”, não podem nos trazer Sua presença Ezequiel 33:12b continua com a admoestação que “…: A justiça do justo não o livrará no dia da sua transgressão; e quanto à impiedade do ímpio, não cairá por ela, no dia em que se converter da sua impiedade; nem o justo poderá viver pela sua justiça no dia em que pecar.”
O contexto sugere que não podemos “construir, empilhar” boas obras que sejam suficientes para agradar a Deus, quando ignoramos ou descumprimos Suas ordenanças morais.
Se confiamos em boas obras para agradar a Deus, estamos de fato com problemas! Poderíamos ser reduzidos ao ponto do desespero? Não há modo de agradar a Deus? Como podemos ser declarados justos aos olhos de Deus?
Justiça de Deus
Devemos ter uma justiça que Ele veja como justiça. Duas coisas são requeridas para essa justiça: fé de nossa parte e o perdão da parte de Deus.
Primeiro, fé ou crença no que Deus pode fazer, fez e fará Gêneses 15:6 afirma muito claramente como isto afeta a Deus. “E creu ele [Abraão] no SENHOR, e (Este) imputou-lhe isto por justiça.”
Este pensamento continuou em Habacuque 2:4b. “… mas o justo pela sua fé viverá.” Este é um padrão abrangente, geral para todo o tempo, aplicável até mesmo hoje. O que é esta fé? Isaias dá a resposta no capítulo 26:3: “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti.”
Fé é confiança, confiança nas ações e desejos do SENHOR. Muita gente declararia que têm “fé”, mas quando pressionados a explicar “fé” no que, comumente cai em suas próprias obras, crenças e ações.
Segundo Isaías isto distorce a fé. Nossa fé não pode, de fato não deve, estar em nós mesmos. Pareceria então que a questão básica na salvação é a redenção ou perdão. Se não há modo de nós obtermos isso, o que deve acontecer então?
O Verbo e a Encarnação
O Evangelho de João temos um retrato inigualável de nosso Senhor. Ele é tão preciso quanto os retratos dos outros Evangelhos, apesar de suas diferenças em estrutura e propósito.
E ele nos lembra que, em Jesus Cristo, Deus não só revelou aos judeus como seu Messias, aos romanos como seu Homem de Ação ideal, e aos gregos como verdadeiro modelo de humanidade.
Em Jesus Cristo, Deus se revelou em seu Filho, como absolutamente a única resposta para as necessidades mais profundas e universais de uma humanidade perdida.
‘No princípio, era o Verbo’ (Jo 1.1).
É provável que João, conscientemente, tenha duplicado as palavras de Gênesis 1.1, ‘No princípio… Deus’.
O ‘princípio’, em cada caso, nos transporta para o passado além da Criação, em uma eternidade que só era habitada por Deus, o agente ativo em todas as coisas que existia como Deus e com Deus.
Isto é enfatizado no texto pelo uso do termo em, ‘era’ e ‘estava’. João usa este termo três vezes neste versículo, o tempo imperfeito do verbo eimi, em vez de uma forma do verbo egeneto, Eimi e em simplesmente descrevem a existência contínua; ageneto significa ‘tornar-se’. No princípio o Verbo, como Deus, já desfrutava de existência infinita, sem início e sem fim.
A tradução de Knox exibe o sentido deste verbo, quando ele traduz a frase seguinte: Deus tinha o Verbo morando consigo'” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Culturaldo Novo Testamento. 7.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, pp. 193,195).
Ao encarnar, Cristo se tornou:
(1) o Mestre perfeito — a vida de Jesus nos permitiu perceber como Deus pensa e, por conseguinte, como devemos pensar (Fp 2.5-11);
(2) o Homem perfeito—Jesus é o modelo do que devemos tornar-nos. Ele nos mostrou como viver e nos dá o poder para trilhar esse caminho de perfeição (1Pe 2.21);
(3) O sacrifício perfeito—Jesus foi sacrificado por todas as iniquidades do ser humano; sua morte satisfez as condições de Deus para a remoção do pecado (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p, 1414).
O Nascimento Virginal e a Encarnação
1 – O Nascimento Virginal
Provavelmente, nenhuma doutrina cristã é submetida a tão extenso escrutínio quanto a do nascimento virginal, e isto por duas razões principais.
Primeiro, esta doutrina depende, para a sua própria existência, da realidade do sobrenatural. Muitos estudiosos, nestes últimos dois séculos, têm desenvolvido um preconceito contra o sobrenatural; e esse preconceito tem influenciado seu modo de analisar o nascimento de Jesus.
A segunda razão para a crítica do nascimento virginal é que a história do desenvolvimento de sua doutrina nos leva para muito além dos simples dados que a Bíblia fornece.
A própria expressão ‘nascimento virginal’ reflete essa questão, O nascimento virginal significa que Jesus foi concebido quando Maria era virgem, e que ela ainda era virgem quando Ele nasceu (e não que as partes do corpo de Maria tenham sido preservadas, de modo sobrenatural, no decurso de um nascimento humano).
Origem do conceito
Um dos aspectos mais discutidos do nascimento virginal é a origem do próprio conceito. Alguns estudiosos têm procurado explicá-la por meio de paralelos helenísticos.
Os enlaces que os deuses e deusas mantinham com seres humanos, na liturgia grega da antiguidade, são alegadamente os antecedentes da ideia bíblica.
Mas essa teoria certamente desconsidera a aplicação de (Isaías 7, em Mateus 1. Isaías 7, com sua promessa de um filho que nascerá, é o pano de fundo do conceito do nascimento virginal Muitas controvérsias têm girado ao redor do termo hebraico “almah, conforme usado em Isaías 7,14.
A palavra é usualmente traduzida por ‘virgem’, embora algumas versões traduzam por ‘jovem’. No Antigo Testamento, sempre que o contexto oferece nítida indicação, a palavra significa uma virgem com idade para casamento” (HÕRTON, Stanley M. 1.ed. Rio de Janeiro; CPAD, 1996, p. 322).
2 – Encarnação
Quando na plenitude dos tempos (Gl 4.4), o anjo Gabriel comunicou a Maria que ela seria o instrumento da encarnação de Jesus, disse-lhe: ‘Em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus’ (Lc 1.31).
[…] Jesus, o ‘Deus bendito eternamente’ (Rm 9.5), fez-se homem. Esse mistério chama-se encarnação. A Bíblia diz: ‘grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne’ (1Tm 3.16).
A doutrina da encarnação de Jesus excede tudo o que o entendimento humano possa compreender; porém, desse milagre depende a substância do Evangelho da salvação e a doutrina da redenção.’ Para conhecer mais leia Teologia Sistemática, de Eurico Bergsten, CPAD, pp.48-49.
A importância do Advento de Jesus na Bíblica
Não há nada mais significativo nos Evangelhos do que a narrativa do advento de Jesus. Com advento nos referimos ao processo de encarnação do Deus Filho.
Jesus é achado Filho de Deus em que sua concepção foi obra do Espírito Santo. As Escrituras afirmam que Maria, sua mãe, o concebeu virginalmente (Lc 1.26-35).
Sobre esse milagre, diz o importante documento dos primeiros cristãos: “Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria” (Credo Apostólico).
O Deus Trino operou na encarnação do verbo divino! Diferentemente dos deuses pagãos, o Deus da Bíblia buscou se revelar à humanidade como igual com ela.
Sem deixar de ser divino e, igualmente, sem deixar de ser humano, pois as suas duas naturezas, humanas e divinas, não se misturam nem se separam; mas antes, se mostram como duas entidades que comungam da mesma natureza, propósito e missão.
Através do Cristo
Foi pelo Filho que o Pai se deu a conhecer de uma vez por todas (Hb 1.1). Em Jesus, Ele se relaciona com os seres humanos de maneira amorosa, misericordiosa e justa (Mt 9.13). Logo, por meio de Cristo, o Pai chamou um povo e revelou-se a ele.
Esse povo agora não tem mais características étnicas, geográficas ou culturais, pois em Jesus toda a parede que fazia separação entre judeus e gentios foi derrubada (Ef 2.14-16).
A salvação anunciada pelo advento do nosso Salvador e experimentada por milhares de pessoas ao longo da história continua disponível hoje. É a tão bela e graciosa salvação provida por Cristo!
Por isso amamos Jesus; vivemos em Jesus; devemos estar sempre em Cristo, o autor e consumador da nossa fé! A Igreja Cristã, ao longo desses 21 séculos de história, crê no evento de Cristo no mundo.
Tendo no advento, crucificação, morte e ressurreição de Jesus a certeza de que é possível o ser humano ter uma nova vida com Deus mesmo num mundo decaído, onde habita pessoas de natureza decaída.
Conclusão
A Palavra de Deus revela que fomos alcançados pela graça de Deus, um favor imerecido, uma provisão salvífica maravilhosa e graciosa para nós. Tudo isso ocorreu a partir da obra salvífica de Jesus prenunciada em seu advento.
Assim, a partir do que em teologia denominamos de “evento Cristo”, como o apóstolo Paulo, podemos dizer: “Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (1 Co 15.54,55). Cristo, o advento glorioso!