Abraão – a Esperança do Pai da Fé

Abraão a esperança do pai da fé

Abraão – a Esperança do Pai da Fé

Segundo o Apóstolo Pedro, a esperança do Cristão é a motivação de sua chamada (1 Pedro 3,15). Só uma vida vivida na perspectiva da promessa, como Abraão, pode ser testemunha da grande esperança e acendê-la no coração de quem é chamado.

Biografia do nosso Pai na Fé e um resumo histórico

(Abraão)

Eu me alimento das mãos de Deus

– Hebraico: Pai de uma multidão.

– Patriarca, descendente de Sem.

– É um dos maiores vultos da Bíblia e um nome célebre em todo o Oriente. Dele descende o povo judeu e, por Ismael, os árabes.

– Progenitor dos hebreus, Js.24:2;  Is.51:2; Mt.1:1; Mt.3:9;  Gl.3:7-9; etc.

– Nasceu em Ur dos Caldeus; filho de Terá; casou com Sarai, Gn.11:27-31; Chamado por Deus se apresenta, mais uma vez a Abraão como o provedor e demonstra, para o nosso Pai na , que a obediência é a chave da prosperidade e não as crendices e superstições que existem por aí. (At.7:2-4), mudou-se para Harã, Gn.11:31

– Depois da morte de seu pai, saiu de Harã com Ló, Gn.12:4-5;  Hb.11:8

– Edificou um altar em Siquém, onde o Senhor lhe prometeu que essa terra seria dos seus descendentes, Gn.12:6-7; Armou sua tenda e edificou um altar entre Betel e Ai, nas faldas dos dois famosos montes Ebal e Gerazim, Gn.12:8.

– Havendo fome em Canaã, desceu ao Egito, Gn.12:10

– Era muito rico em gado, em prata, em ouro, em servos e em servas, Gn.12:16; Gn.13:2-6; Gn.24:35.

– Levou 318 homens, nascidos em sua casa, para libertar Ló, Gn.14:14; Em Betel separou-se de Ló, Gn.13:11-13.

– Venceu Quedorlaomer e libertou Ló, Gn.14:1-17.

Eu me alimento das mãos de Deus

Melquisedeque recebeu seu dízimo e o abençoou, Gn.14:18-20; Hb.7:1-7.

– Deus prometeu-lhe um filho, quando “a Sara havia cessado o costume das mulheres”, Gn.15;  Gn.18:11.

– O pacto de Deus de lhe dar toda a terra “desde o rio Egito até ao grande rio Eufrates”, Gn.15:7-21; Ne.9:7-8.

– Era pai de Ismael, Gn.16; A tentativa dos homens não modifica o plano de Deus; não o filho da escrava, mas o da livre; não o filho da carne, mas o da promessa, Gl.4:21-31;

Continua…

– Seu nome antigo, Abrão, foi mudado por Deus para Abraão, Gn.17:5.

– Recebeu o pacto da circuncisão, Gn.17:9-14.

– Hospedou três anjos, Gn.18:1-16.

– Intercedeu por Sodoma, Gn.18:23-32; Gn.19:29.

– Quando tinha 100 anos de idade, nasceu seu filho  prometido, Isaque, Gn.21:5.

– Ia oferecer  Isaque em holocausto, Gn.22; (Sacrifícios humanos eram comuns entre as nações pagãs circunvizinhas.)

Eu me alimento das mãos de Deus

– Na morte de Sara, com 127 anos de idade, comprou Macpela para sepultá-la. Gn.23.

– Mandou um servo, à sua terra e a sua parentela, buscar uma esposa para Isaque, Gn.24.

– Casou com Quetura e lhe nasceram seis filhos que se tornaram os pais das tribos nômades que habitam o território ao sul da Palestina, Gn.25:1-2.

– Com a idade de 175 anos “foi congregado ao seu povo” e sepultado ao lado de Sara, na cova de Macpela, Gn.25:7-9.

– Seus progenitores serviam outros deuses (Js.24:2), mas ele foi chamado:

– “O amigo de Deus”  2Cr.20:7;  Is.41:8; Tg.2:23

– “O fiel Abraão”   Gl.3:9

– “O pai de todos nós”   Rm.4:16

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– Menciona-se a sua fé:

Gn.15:6; Jo.8:39; Rm.4:3; Gl.3:6; Hb.11:8-10; Tg.2:23

A Fé de Abraão

Ainda sobre o Patriarca Abraão é bom ressaltarmos aqui sobre a sua fé. Tudo começa quando Abraão partiu de Harã tendo, o mesmo, 75 anos de idade e com a promessa divina em que Deus multiplicaria a sua descendência, e dar-lhe a terra de suas peregrinações.

Lembramos que essa mesma promessa foi ratificada estando o Patriarca já avançado na idade e o mesmo não titubeou, mas creu no poder de Deus mediante a sua promessa. Agora vejamos que não somente a idade de Abraão está avança como também a da sua esposa, sara, que além do mais era estéril e o período da maternidade havia passado. ALELUIAS!

Quando Paulo cita Romanos capítulo 4 observamos que ele argumenta o que está escrito em Gênesis 15:6 que diz: “E ele creu no Senhor e foi-lhe imputado isto por justiça” e isto não pelas obras, mas sim, pela fé.

A confiança do nosso Pai Abraão gera Esperança de Salvação

Então, que diremos; que Abraão, nosso antepassado, obteve pelo esforço próprio? Tendo tranquilizado o seu questionador judeu hipotético de que o foco do evangelho na confiança fiel não anula a lei, mas a confirma (Rm 3:31), Paulo trata de uma segunda objeção que ele poderia levantar: E z´khut-avot, os méritos do antepassado?” (Rm 11:28,29). Não há dúvida de que, no século I d.C., espalhou-se a doutrina de que os descendentes podem se beneficiar e até reivindicar salvação com base na justiça dos seus antepassados.

Os adversários de Jesus fizeram exatamente esta reivindicação em João 8:33, os próprios inimigos de Paulo obviamente estavam usando a ideia em II Coríntio 11:22 e João Batista, o imersor, repreendeu seus indagadores antes de eles terem a chance de dizer: “Abraão é nosso pai” (Mt 3:9). Há um núcleo de bases bíblicas para esta crença: “E porque amou os seus antepassados, ele escolheu a descendência deles” (Dt 4:37); veja também Êxodo 32:13).

Além disso, há uma aplicação perfeitamente correta dessa ideia não ao direito dos descendentes, mas a fidelidade de Deus, de que Ele cumprirá suas próprias promessas aos antepassados (Rm 11:28,29).

A confiança de Abraão

A literatura Rabínica está correta em enfatizar a atitude fiel e confiante de Abraão para com Deus. Por exemplo, diz o Midrash Rabbah:

“O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência”. (Rm 4:18).

“E não enfraquecendo na fé, não atentou para o seu próprio corpo já amortecido, pois era já de quase cem anos, nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara”. (Rm 4:19).

 “Pela fé também a mesma Sara recebeu a virtude de conceber, e deu à luz já fora da idade; porquanto teve por fiel aquele que lho tinha prometido”. (Hebreus 11:11).

Vivendo de Esperança

Abrão passa a viver de esperança. Dia após dia, um mês atrás do outro, por anos a fio! Toda a sua vida, depois de ter recebido a promessa de Deus.

Todos sentimos necessidade de esperar. Vivemos de esperança! É uma das maiores motivações da vida. Dizemos até que é a última a morrer.

1 – Mas há três tipos de esperança.

Há a esperança «microscópica», que tem que ver com as pequenas coisas da nossa vida, motivação das decisões do dia-a-dia. Há também a esperança «macroscópica», que pode nortear toda uma vida, levando-nos a lutar por grandes ideais, como o de um mundo mais justo e fraterno.  E existe a esperança «telescópica». Esta perscruta os céus para contemplar as estrelas. É a grande Esperança, capaz de olhar para o alto e de ver ao longe.

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Ela conduz-nos fora de nós mesmos e rasga os nossos horizontes estreitos. É a essa a esperança que é chamado Abrão: Depois Javé conduziu Abrão para fora, e disse-lhe: Ergue os olhos ao céu e conta as estrelas, se puderes. E acrescentou: Assim será a tua descendência (Gênesis 15,5). A esta esperança somos chamados também nós.

Hoje sente-se a falta de grandes esperanças, que sejam janelas abertas aos vastos e infinitos espaços. É que a esperança tornou-se objeto de mercado no mundo hodierno. Oferecida pelos spots publicitários. Vendida por gurus e curandeiros. Prometida pela miragem de uma ciência capaz de resolver todos os males.

2 – Uma esperança diferente

Mas hoje, talvez mais do que nunca, a gente, desiludida, experimenta a necessidade de uma esperança diferente, que não engane. O problema é que faltam pessoas capazes de viver e de transmitir tal esperança. Não há esperança para os que nasceram cansados.

Aqueles que procuram o conforto, fogem da canseira, que se queixam de tudo e de todos, arrastam o passo e acabam por cair numa profunda apatia pela vida. Para estes a esperança é uma ilusão. Não há esperança para os folgazões.

A quem interessa só o divertimento, gozar da vida, desfrutar das suas oportunidades para dela tirar todo o prazer. Estes não estão interessados na esperança porque não querem investir nada no futuro. Pretendem tudo no imediato. Vivem alienados no presente.

A esperança acende-se nos corações «insatisfeitos», que desejam «mais e melhor», capazes de entusiasmar-se e de lutar por um ideal e que por isso decidem investir no futuro. Por vezes são considerados um pouco loucos. Mas são estes os que acendem a chama da esperança nos corações.

Uma chama resistente às intempéries. Diz S. Agostinho: a esperança é como a chama de uma tocha acesa… Se a mantivermos erguida, a chama sobe para o céu; se a inclinamos, a chama continua a subir para o céu. Se a viramos para baixo, acaso a chama se voltará para o chão? Seja qual for a posição da tocha, a chama não conhece outra orientação senão a de virar-se para o céu.

3 – Os olhos da esperança

A esperança, porém, é um grande desafio. Caminha por carreiros pedregosos. Depara com dificuldades e navega frequentemente entre escolhas. Exige coragem. Muita coragem até, às vezes. Veja-se o que aconteceu com Abrão.

Os anos passavam e a promessa tardava a cumprir-se. Depois de dez anos de espera, já com 85 anos, decide «dar uma mão» a Deus, acolhendo a proposta de Sarai, segundo os costumes da época, de ter um filho da escrava Agar.

Nasce assim Ismael, o filho da escrava (Gênesis 16). Deus espera 14 anos mais, antes de se manifestar de novo e renovar a sua promessa a Abrão, agora com 99 anos. Já conformado com a sua sorte, Abrão contentar-se-ia com Ismael mas Deus insiste e aumenta até a aposta: Serás pai de muitas nações. E já não te chamarás Abrão, mas o teu nome será Abraão, pois farei de ti o pai de muitas nações. Eu tornar-te-ei extremamente fecundo. De ti farei surgir nações, e de ti nascerão reis (17,4-6).

Leia mais sobre A provisão de Deus.

A reação de Abraão

A reação de Abrão, com um certo traço de decepção e amargura, é bem compreensível: «Abraão caiu com o rosto por terra e começou a rir, pensando: “Será que um homem com cem anos vai ter um filho, e Sara, que tem noventa anos, vai dar à luz?”

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Abraão disse a Deus: “Ficarei contente se conservares Ismael vivo”. Deus porém respondeu: “Não! É Sara quem vai dar-te um filho: dar-lhe-ás o nome de Isaque” (17,17-19). Deus põe a nossa esperança à prova. Através do tempo, do silêncio e da cruz. Estes podem tornar-se as grandes escolhas onde a esperança pode vir a naufragar.

1 – O primeiro escolho a vencer é o tempo.

Deus avança por vezes a passo de caracol, sem pressa. Não é de admirar, dado que para o Senhor «mil anos são como um dia e um dia como mil anos» (2 Pedro 3,8). Mas não é assim para o homem! No nosso frenesi, desejaríamos ver realizadas as promessas de Deus sem demora.

A promessa requer que se aprenda também a esperá-la. Na realidade, não é Deus que necessita do tempo mas nós próprios, devido à dureza do nosso coração, «tardo a crer na palavra dos profetas» (Lucas 24,25).

2 – O segundo escolho é o pesado silêncio de Deus.

Basta pensar nos longos anos em que Deus permanece silencioso com Abrão, quase como se o tivesse esquecido. Abrão continua a sua vida nômade guiado simplesmente por uma promessa. A fé não é uma opção feita uma vez por todas mas a renovar cada dia. Deus educa e purifica a fé do crente não só pelos sinais da sua presença mas também através da sua aparente ausência.

Mas o maior obstáculo é sem dúvida a prova da cruz e a morte. No caso de Abraão trata-se do convite a sacrificar Isaque, o filho da promessa (Gênesis 22). Para outros, poderia ser o desmoronar-se de quanto dava sentido à existência. Na vida de um missionário, talvez a destruição do fruto do esforço de toda a sua vida apostólica. Por outras palavras, o Senhor convida o crente a «renunciar» à promessa para encontrar só em Deus o sentido da própria vida!

É este o momento da maturidade da esperança. Se Abraão no começo da sua caminhada vocacional tinha sido convidado a sacrificar o seu passado em virtude de uma promessa, agora é chamado a sacrificar o futuro, e sem promessa alguma. No fim, Abraão receberá Isaac de volta mas como puro dom de Deus. A promessa do Senhor será sempre gratuita. É o estranho, imprevisível e incompreensível agir de Deus, o escândalo da esperança (Davide Turoldo).

De uma vida de Projeto a uma vida de Esperança

Todo homem gosta de projetar a sua vida. Projetar (do latim [pro] diante [jacere] deitar) significa tomar nas mãos a própria vida e lançá-la (jetar) diante de si (pro). Edificar a própria existência segundo um projeto por nós concebido. Viver de uma promessa significa algo completamente diferente.

A promessa é algo que me é posto diante («pro-meter», do latim promittere). Viver segundo uma promessa é viver em resposta ao que alguém coloca diante de nós. Atrás do projeto há o desejo do homem de gerir a sua vida segundo os seus sonhos e contando com as próprias forças.

A promessa invés é o projeto que Deus me põe diante e que eu acolho como uma vocação, renunciando ao meu projeto pessoal. Por fim, o cristão é chamado hoje a «dar razão da sua esperança» (1 Pedro 3,15). Só uma vida vivida na perspectiva da promessa, como Abraão, pode ser testemunha da grande esperança e acendê-la no coração dos demais!

Conclusão

Na verdade, Deus é assim: usa nossas fraquezas e impossibilidades para demonstrar Sua força e poder! Abraão teve que crer nas promessas de Deus. Apesar da sua idade e da sua esposa, que era estéril e também idosa, Deus agiu na vida deles, como também age em nossas vidas renovando Nele a nossa esperança.

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