Sendo cautelosos nas opiniões

Sendo cautelosos nas opiniões

Nesta parte do Sermão, Jesus demonstrou aos seus ouvintes que muitos julgamentos podem ser equivocados e injustos, e por isso, desaconselháveis. Há pessoas que julgam baseadas numa falsa percepção da realidade, no preconceito ou ainda no radicalismo pessoal.

À luz da Bíblia, o cuidado com a vida, a reparação do erro e a prestação de contas são individuais, não havendo, com isso, motivo de nos apoiarmos nos erros dos outros para nos desculparmos dos nossos. De maneira alguma nossa individualidade pode servir de padrão para julgar os outros. O cristão, inserido em uma comunidade, deve medir-se pelo padrão divino e, em relação aos outros, preservar a comunhão em amor.

Texto Bíblico (Mateus 7.1-6).

Os equívocos dos Julgamentos pessoais

Podem ser fruto de falsa percepção.

Em princípio, convém ressaltar que o Senhor, na passagem em apreço, como ficou claro na Lição 7, não está condenando qualquer estrutura jurídica, que tem por finalidade aplicar a justiça e punir os culpados, nem criticando o papel da Igreja quanto ao exercício da disciplina sobre os seus membros. O que está em questão é o juízo pessoal acerca do próximo e as suas perniciosas consequências, levando em conta a tendência natural do ser humano de preocupar-se mais em “fiscalizar” a vida do semelhante do que a sua própria (ver Rm 2.1; Tg 4.11). Aqui o Mestre mais uma vez é incisivo: “Não julgueis para que não sejais julgados” (v.1).

Esta advertência faz sentido porque podemos incorrer em equívocos e precipitações em virtude de nossa falsa percepção sobre as coisas. Os próprios contemporâneos de Cristo não souberam avaliá-lo à luz de suas percepções (ver Mt 16.13,14). Nem sempre a ótica sob a qual estamos olhando a vida do semelhante corresponde à realidade dos fatos. Quando o profeta Natã procurou Davi para falar do seu pecado, o rei apressadamente julgou tratar-se de outra pessoa, quando a questão era com ele mesmo (2Sm 12.1-7). Ou seja, a nossa percepção não é o devido parâmetro para julgar o que se passa com a vida alheia. Só Deus tem a capacidade de conhecer o coração do homem (ver Sl 139.23,24).

Podem ser fruto de preconceito.

Outra razão para evitarmos os equívocos dos julgamentos pessoais é que eles podem ser fruto de preconceito. Quando formulamos concepções preconceituosas acerca de alguém, com certeza elas condicionarão a nossa forma de pensar sobre aquela pessoa. Para o gigante e preconceituoso Golias, o franzino Davi jamais teria condições de derrotá-lo. Por isso olhou-o com desdém, sem saber quem supria as forças do rapaz. O resultado, todos conhecem (ver 1Sm 17.40-47).

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Podem ser fruto de radicalismo pessoal.

Por outro lado, os equívocos dos juízos temerários resultam, também, de radicalismos pessoais ou má interpretação das Escrituras. No primeiro aspecto, estão aqueles casos em que os pontos de vista de cada um são mais importantes do que a questão em si. É quando aqueles que “julgam” não se permitem olhar o próximo sob outra ótica que possa pintar-lhe um quadro mais favorável.

No segundo aspecto, destacam-se certas interpretações distorcidas das Escrituras simplesmente com o propósito de acusar o semelhante e apontar-lhe faltas, sem atentar, isto sim, para a sua restauração espiritual. É o uso de textos isolados, como fez Satanás com Jesus (ver Mt 4.1-11), objetivando até mesmo o massacre espiritual, sem que haja qualquer preocupação em salvar a vida do indivíduo.

Cabe lembrar que para estes o Senhor estabeleceu o princípio da reciprocidade: “porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós” (v.2). Esse julgamento, por conseguinte, provém de Deus. Quem sabe, estamos, hoje, colhendo resultados nefastos em razão da forma rígida com que temos julgado os nossos semelhantes? A grande questão é como cumprir tão elevado nível de exigência na vida cristã!

Argumento Bíblico

 “‘Não julgueis’ (Mt 7.1). Não é proibido julgar em todo o sentido; devemos reconhecer que um cão é cão, que um porco é porco (v.6). Compare também (1Co 5.3). Mas não devemos falar mal do próximo: ‘Um só é o legislador e juiz’ (Tg 4.11,12). Não devemos desprezar os nossos irmãos, ‘pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus’ (Rm 14.10). Não é o amor, como alguns insistem categoricamente, que nos leva a censurar e condenar; é a falta de amor.

Há grande inclinação para censurar o próximo que não aceite a nossa bitola. Somos como nas fábulas dos animais reunidos para escolher um rei. O leão insistia que merecia a honra de governar a todos porque rugia mais. O canário alegava o seu direito de reger em vista de cantar melhor. A raposa devia ter a direção de todos os animais por ser a mais sabida. O canguru acentuava as razões porque deviam escolher aquele que pulava a maior distância. A carnalidade, se não a resistirmos, arrasta-nos para a mesma insensatez. Outro grave erro é o de ignorar as boas qualidades do próximo e julgá-lo pelos defeitos da sua vida. Nisso somos como o homem que viajou grande distância da aldeia onde se criara, no interior do país, para conhecer o mar.

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Chegou ao cais justamente no tempo de baixa-mar e se assentou ao lado de um esgoto da cidade populosa. Contemplou a lama com mal cheiro, o lixo misturado com cadáveres de gatos e outras coisas putre-fazendo-se e exclamou: Ora, isto é o mar azul de cuja espuma nasceu Afrodite, a deusa da formosura, e cujas vagas inspiram os poetas?! O espírito da censura nos impele a meditar e falar sobre os defeitos em nossos semelhantes; o amor nos constrange a pensar no que é verdadeiro, no que é respeitável, no que é justo, no que é puro, no que é de boa fama (Fp 4.8). ‘Com o critério que julgardes, sereis julgados’ (v.2). Não somente o Supremo Juiz nos julgará, conforme nós julgamos o próximo, mas as pessoas a quem julgamos nesta vida julgar-nos-ão com o mesmo julgamento” (Espada Cortante, CPAD, pp.439,440)

A individualidade à luz da Bíblia

O cuidado com a vida é individual.

A partir daí o Senhor introduz o padrão correto quanto ao trato pessoal, com ênfase para a individualidade de cada um (vv.3-6). As implicações disso são que cada crente é responsável diante de Deus pelos seus atos, cabendo-lhe a responsabilidade de cuidar de si próprio — tirar a trave do olho — pois todos, individualmente, temos as nossas falhas para as quais somos chamados a ter especial atenção (ver Gl 6.5). Isto não significa deixarmos de ser solidários com as fraquezas alheias, mas em exercermos o cuidado individual de tal maneira que, ao invés de sermos críticos em relação ao próximo e nos deleitarmos com a sua pecaminosidade, estejamos em condições de ajudá-lo a ser restaurado (v.5) para viver a sua própria vida diante de Deus (cf. Tg 5.6).

A correção é individual.

Outro princípio que o texto esclarece é que a correção é individual. Cada um precisa tomar a iniciativa de corrigir-se (v.5), mesmo que receba a ajuda solidária e fraterna da comunidade cristã. O princípio da disciplina eclesiástica começa com esta etapa. Primeiro, o crente é chamado por alguém que lhe ama, na solidão de uma conversa pessoal, a reconhecer o seu erro e a abandoná-lo por sua própria iniciativa, com a ajuda do Espírito Santo. Caso não haja progresso, outra vez é instado diante de duas ou três testemunhas. Se não houver mudança de rumo só aí a questão disciplinar é considerada pela comunidade dos fiéis (ver Mt 18.15-17).

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A prestação de contas é individual.

Por último, a individualidade do cristão também aparece na prestação de contas diante de Deus. Tal verdade está implícita na parábola dos dez talentos (Mt 25.14-30) e em outras passagens, bem como foi reafirmada pelo apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos (ver Rm 14.12). A doutrina da individualidade se contrapõe a ideia defendida por aqueles que veem o pecado apenas nas estruturas sociais, esquecendo-se de que se elas são injustas isto decorre do egoísmo centrado no coração humano (Is 32.7).Costumo dizer, em minhas palestras, que tudo vai bem enquanto o homem não chega. A partir daí começam os problemas porque cada um, ostentando a sua individualidade, busca fazer prevalecer as suas ideias. Daí porque primeiro o indivíduo precisa ser transformado para que então a sociedade seja transformada.

A inserção do Indivíduo na Comunidade Cristã

Medir-se antes pelo padrão divino.

Cabe, todavia, ressaltar que o crente vive a dentro da comunidade cristã. A sua individualidade, do ponto de vista bíblico, não lhe dá o direito de afastar-se do meio dos fiéis. Pelo contrário, o amor a Deus lhe constrange a buscar a comunhão uns com os outros no seio da Igreja de Cristo (ver Sl 133; At 2.42-47; Hb 10.24,25). Mas, à luz da Bíblia, ao invés de ficarmos olhando as falhas alheias e com elas querendo justificar a nossa fraqueza espiritual, devemos ter como nosso maior referencial e idealização a pessoa de Jesus em busca deste elevado padrão de exigência dos que tomam posse do reino de Deus (1Co 11.1; Hb 12.1,2).

Preservar a comunhão em amor.

Por outro lado, apesar de estarmos na comunidade cristã como indivíduos, a Palavra de Deus ilustra esse nosso vínculo aos demais da mesma forma que os membros e órgãos do corpo humano estão ligados entre si (1Co 12.12-27). Por isso, buscar a paz e a harmonia entre todos faz parte de nossa responsabilidade individual e realça a legitimidade do Evangelho, pois, segundo Jesus, o mundo só crerá na nossa mensagem se ela transmitir, na prática, a nossa unidade cristã (ver Jo 17.21).

Conclusão

Como se vê mais uma vez, o Sermão do Monte estabelece em todas as áreas da vida cristã um elevado nível de exigência humanamente impossível de ser alcançado. Porém, este é o padrão para o qual devemos caminhar, mediante a graça de Cristo, lembrando-nos de que não somos melhores do que os demais para julgá-los, mas todos dependemos do mesmo Deus, que há de julgar os vivos e os mortos, para que a cada dia sejamos aperfeiçoados pelo Senhor.

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