Nossa segurança vem de Deus
Os bens materiais devem ser olhados sob o prisma do seu valor terreno, com todas as consequências, boas ou más, que eles acarretam. A busca frenética do homem por riquezas e a expectativa de um futuro abastado o torna ansioso, preocupado e inseguro. O fato é que o apego demasiado aos bens materiais quase sempre rouba o coração, a dignidade e a fé em Deus. Com isso, o homem perde a visão das coisas divinas, deixando de pôr sua confiança na provisão do Todo-Poderoso. O Mestre aconselhou seus ouvintes a que valorizassem os bens eternos; que estabelecessem a prioridade correta, o reino de Deus em primeiro lugar.
Texto Bíblico (Mateus 6.19-27)
Neste artigo você estudará sobre:
ToggleO acúmulo das Riquezas
O valor dos bens terrenos.
A questão das riquezas tem sido um tema predominante nos meios evangélicos, principalmente com o advento da teologia da prosperidade, onde o acúmulo de bens é reconhecido como sinal da bênção de Deus. Mas no seu magistral ensino sobre o tema, o Senhor começou por estabelecer a relatividade dos bens terrenos no tocante à vida eterna (v.19).
O valor dos bens eternos.
or outro lado, contrapondo-se às riquezas terrenas, o Senhor apontou para um valor superior e absoluto: o acúmulo dos bens eternos (v.20). Estes, sim, devem constituir-se em nossa preocupação diária, pois nos asseguram que na glória receberemos a recompensa pela nossa fidelidade no serviço cristão (ver Mt 25.21,23; 1Co 3.10-15). Essa foi a expectativa de Abraão, que o fez deixar a sua parentela e partir para uma terra distante, desconhecida, porque tinha como alvo os bens da pátria celestial, não obstante o Senhor ter-lhe também abençoado com os bens terrenos. Mas estes pouco importavam diante da grandiosidade das riquezas eternas (Hb 11.8-10).
A Bíblia desestimula o acúmulo de bens.
Todavia, pesando-se os dois lados da questão, conclui-se que o ensino do Mestre é um claro desestímulo ao acúmulo de bens terrenos, deixando evidente que a busca das riquezas não deve constituir-se no alvo do crente. As epístolas respaldam essa posição, enfatizando o perigo que as riquezas representam quando ocupam a nossa prioridade (1Tm 6.9; Tg 5.1). Sem entrar no mérito das discussões de conceitos econômicos (este não é o nosso propósito), a verdade é que o problema situa-se no sistema mundano e pecaminoso no qual vivemos, que gera toda sorte de distorções. Assim, para que uns sejam ricos outros permanecerão pobres. Acrescente-se, ainda, que em muitos casos a riqueza é fruto da opressão e de caminhos nem sempre honestos empregados em sua conquista (Tg 5.1-6).
O perigo das Riquezas
Roubam o coração.
Para argumentar em favor de sua tese, o Senhor retorna outra vez ao seu ponto predileto no Sermão do Monte: o coração (v.21). Ele quis dizer, com isso, que aquilo que somos interiormente determina as nossas prioridades, e estas, por sua vez, roubam todos os nossos afetos. Deste modo, à medida que o apego às riquezas se vai tornando o nosso objetivo primordial, todo o ânimo de nossa alma será transferido em favor dessa busca quase sempre intranquila, onde o dinheiro (e tudo o que ele representa) poderá transformar-se num ídolo entronizado em nosso coração (1Tm 6.10).
Roubam a visão espiritual.
Outra figura que Jesus empregou com o mesmo significado foi a importância dos olhos para o corpo (vv.22,23). Ou seja, se forem saudáveis e bem direcionados trarão benefícios ao organismo. Caso contrário, as consequências serão negativas. O apego às riquezas, de igual modo, surte o mesmo efeito. Quando elas se apossam de nossa vida, distorcem a nossa visão e acabamos por perder o rumo da nossa vida espiritual — as trevas recaem sobre nós — por ficarmos apegados ao materialismo e aos valores de uma sociedade secularizada, onde o que conta é a prevalência do hedonismo (ver Mt 24.37-39; Lc 12.13-21).
Roubam a fé em Deus.
Como um abismo chama outro abismo, o apego às riquezas nos poderá levar a um ponto em que ficaremos com o coração dividido entre Deus e Mamom. No v.24 Jesus mostra ser impossível alguém ser leal a dois senhores simultâneos. Um ou outro prevalecerá. Se o apego aos bens terrenos dominar a nossa mente, isto forçosamente nos levará à perda da fé (ver Jr 17.11; Mc 4.16-19).
Responsáveis pela busca das Riquezas
A ansiedade pelo consumo.
Após mostrar os perigos que estão por trás do apego aos bens terrenos, o Senhor trouxe o foco de sua mensagem para as verdadeiras razões que levam o homem a pôr o coração nas riquezas deste mundo. Em primeiro lugar, fica implícito no texto que um desses motivos (vv.25-31) é a ansiedade pelo consumismo, uma característica do nosso tempo, onde as pessoas são avaliadas não pelo que são mas pelo que têm. O profeta Isaías vaticinou contra essa postura em que o deleite carnal é mais importante do que o pão de cada dia (Is 55.2).
A ansiedade pela abastança.
Em segundo lugar, o Senhor deixa transparecer que a ansiedade por maior abastança é outra razão para essa batalha desigual em busca do acúmulo de bens.
A ansiedade pelo amanhã.
Em terceiro lugar, a preocupação com o amanhã (v.34) também aparece como uma das causas para justificar a ambição pelas riquezas, na expectativa de termos um futuro bem assegurado. É óbvio que todas essas coisas nos são indispensáveis, mas o que o Senhor condena é o fato de elas tomarem o lugar de Deus em nossa vida e se tornarem a fonte de nossa maior preocupação, pois via de regra é por aí que as riquezas acabam tornando-se o nosso algoz.
OBS: ARGUMENTO BIBLIOLÓGICO: “‘Não andeis ansiosos’ (Mt 6.25). Jesus não está dizendo que é errado o cristão tomar providências para suprir suas futuras necessidade materiais (cf. 2Co 12.14; 1Tm 5.8). O que Ele realmente reprova aqui é a ansiedade ou a preocupação angustiosa da pessoa, revelando sua falta de fé no cuidado e no amor paterno de Deus (Ez 34.12; 1Pe 5.7). ‘Se Deus assim veste a erva’ (6.30). As palavras deste versículo contêm a promessa de Deus a todos os seus filhos nesta era de aflições e incertezas. Deus prometeu tomar as providências para o nosso alimento, vestuário e demais necessidades.
Não precisamos preocupar-nos neste sentido, mas fazer nossa parte, viver para Deus e deixá-lo cuidar de nossa vida (v.33), certos de que assumirá a plena responsabilidade por uma vida totalmente entregue a Ele (1Pe 5.7; Fp 4.6). ‘Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça’ (6.33). Aqueles que seguem a Cristo são conclamados a buscar acima de tudo o mais, o reino de Deus e a sua justiça. O verbo ‘buscar’ subentende estar continuamente ocupado com a busca de alguma coisa, ou fazendo um esforço vigoroso e diligente para obter algo (cf. 13.45). Cristo menciona dois objetos da nossa busca:
(1) ‘O Reino de Deus’ — devemos buscar diligentemente a demonstração da soberania e do poder de Deus em nossa vida e em nossas reuniões. Devemos orar para que o reino de Deus se manifeste no grandioso poder do Espírito Santo para salvar pecadores, para destruir a influência demoníaca, para curar os enfermos e para engrandecer o nome do Senhor Jesus.
(2) ‘Sua justiça’ — com a ajuda do espírito santo, devemos procurar obedecer aos mandamentos de Cristo, ter a sua justiça, permanecer separados do mundo e demonstrar o seu amor para com todos (cf. Fp 2.12,13)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD, pp.1397,1398).
Como lidar com as Riquezas
Ter a prioridade correta.
Diante do exposto, fica a pergunta: é pecado possuir riquezas? Em nenhum momento a Bíblia respalda esse pensamento, desde que elas sejam fruto do trabalho honesto. Até mesmo porque as páginas das Escrituras registram a vida de vários homens justos e prósperos (ver Gn 13.2; Jó 1.3). A prosperidade, e não o apego aos bens materiais, pode ser o resultado de bem saber administrar os recursos que Deus coloca à nossa disposição. É o exercício legítimo da mordomia cristã. A história eclesiástica moderna aponta para vários homens que souberam empregar os seus bens para a glória de Deus.
Ter domínio próprio.
Esta é uma das doutrinas pouco ensinadas em nossas igrejas e que se constitui numa das características do fruto do Espírito (Gl 5.22). Quando permitimos que o Espírito Santo exerça domínio sobre as nossas vidas, de maneira que essa qualidade seja o nosso referencial permanente, os bens materiais nunca terão controle sobre nossos atos, mas serão uma bênção para a expansão do Reino de Deus na terra (1Co 6.12).
Conclusão
Por último, dois pontos básicos devem pautar a nossa visão sobre o tema: O primeiro encontra-se em Provérbios 30.7-9: “Duas coisas te pedi; não mas negues, antes que morra (…) não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção acostumada; para que, porventura, de farto te não negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecendo, venha a furtar e lance mão do nome de Deus”. O segundo ponto aparece em 1Tm 6.17: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos”.