Não retribua pelos padrões Humanos
Não devemos reagir com espírito de ódio contra o mal praticado contra nós, mas de maneira que demonstre que possuímos valores centrados em Cristo e no seu Reino. Nosso tratamento para com aqueles que nos fazem mal deve ser de tal modo que os leve a aceitar Cristo como seu Salvador.
Texto Bíblico (Mateus 5.38-48)
Neste artigo você estudará sobre:
ToggleA valorização da renúncia
A inconveniência da retaliação.
Em primeiro lugar, percebe-se claramente que o Senhor tinha como único objetivo tratar das nossas reações estritamente pessoais e instintivas às agressões que sofremos. De modo algum estava fazendo a defesa da quebra de qualquer sistema jurídico, que prevê a aplicação de penas correspondentes aos crimes praticados, à semelhança da lei mosaica, que determinava a punição do culpado pelo “princípio da igualdade”, ou seja, “olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Êx 21.24). No Sermão do Monte, o Mestre dirigiu-se exclusivamente a um público específico — os súditos do Reino — para mostrar-lhe que a retaliação pessoal não é própria dos que seguem a Cristo. Com isto, valorizou a renúncia como uma virtude peculiar aos cristãos verdadeiros (cf. Mt 16.24).
O significado da renúncia.
Mas o que significa a renúncia? No contexto em apreço, é a capacidade de conter a nossa reação natural de pagar na mesma moeda quando somos agredidos ou sofremos algum tipo de maldade. Segundo as leis judaicas, um homem em litígio “não podia ser despojado de suas roupas mais externas, embora pudesse sê-lo de sua roupa interior”. Neste caso, que se dê não só a vestimenta interna, mas também a capa. Que se ande não só a primeira milha, mas também a segunda (vv.40,41). Em outras palavras, o princípio aqui transparente, na nossa vida pessoal, é que não se retalia ao mal mas paga-se com o bem (ver Rm 12.21; 1Ts 5.15). A vingança pertence a Deus (Rm 12.19).
A importância da renúncia.
A renúncia assume lugar de importância na vida cristã porque proporciona ao crente a oportunidade de testemunhar com os próprios atos o seu compromisso com a cruz de Cristo (Mt 10.38). Ela implica a certeza de que praticar a fé é mais importante do que descer ao nível da retaliação, com seus males espirituais, morais e emocionais. Ao deixarmos de reagir com as mesmas armas ante aqueles que nos ofendem, desenvolveremos em nós mesmos um espírito nobre, ao mesmo tempo em que os ofensores ficarão desconcertados com a nossa atitude. Queiram ou não, terão de refletir, às vezes até com remorso, sobre as razões do nosso comportamento (cf. At 16.19-34).
Subsídio Bibliológico
“A lei de Moisés exigia que as pessoas com demandas se apresentassem perante o Senhor, diante dos sacerdotes e dos juízes (Dt 19:17). Depois de ouvirem o depoimento de pelo menos duas testemunhas, a regra para a sentença dos juizes era: ‘Olho por olho…’ (Êx 21.24; Lv 24.20; Dt 19.21). Tal era em grande contraste a prática de muitos povos de então: a vida por um olho, a vida por um dente, etc. Contudo, os fariseus nem observavam a lei de olho por olho, com espírito de equidade e de justiça como o povo recebeu de Deus no tempo de Moisés.
Os fariseus, no seu interesse próprio, esqueceram-se ‘do mais importante da lei… a misericórdia e o amor’. ‘Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos’ (v.44): A inclinação natural dos homens é de enfrentar a atitude agressiva do próximo com espírito de ódio e vingança. Mas somos obrigados a permitir assim ao próximo dar o tom a nossa vida? Não podemos deixar sua falta de harmonia desaparecer e responder com uma coisa de mais elevado tom? O amor que devemos deixar operar em nós não é de nós mesmos, mas é ‘derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado’ (Rm 5.5)” (Espada Cortante, CPAD, pp.418,421).
A valorização da imparcialidade
A imparcialidade do bem.
A seguir, no verso 42, o Senhor introduz um assunto novo no sermão. Fica claro, no texto, que não se trata apenas de pagar o mal com o bem, mas sermos também imparciais no trato com os nossos semelhantes, e não estarmos apegados de forma egoísta àquilo que nos pertence. A ideia é que precisamos ter disposição de ajudar o necessitado, mesmo que em outra circunstância ele tenha sido o nosso agressor. É a capacidade de “doar-se”, uma virtude que se está tornando rara, hoje, entre os crentes.
“Em Mateus 5.39 onde está escrito ‘não resistais ao mal’, Jesus não está falando contra a administração da correta justiça aos malfeitores (cf. Rm 13.1-4). Os versículos que seguem (vv.43-48) indicam que Ele se refere ao caso de amarmos os nossos inimigos (v.44; Lc 6.27). Não devemos reagir com espírito de ódio contra o mal praticado contra nós, mas de maneira que demonstre que possuímos valores centrados em Cristo e no seu Reino.
Nosso tratamento para com aqueles que nos fazem mal deve ser de tal modo que os leve a aceitar Cristo como seu Salvador (como exemplos desse espírito, compare Gn 13.1-13 com Gn 14.14, e Gn 50.19-21 com Gn 37.18-28; ver também 1Sm 24.26; Lc 23.24; At 7.60)” (Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, p.1395).
A imparcialidade do desprendimento.
Outro aspecto deste princípio é a imparcialidade do nosso desprendimento. É próprio das pessoas ajudarem quando vislumbram a possibilidade de algum retorno. Mas segundo a Bíblia (ver Is 1.17) a verdadeira ajuda é aquela que se dispõe a estender a mão, independente de receber alguma coisa em troca, sabendo, por outro lado, que Deus age com justiça diante da sinceridade dos nossos atos (ver Lc 6.35; Gl 6.9).
Argumento Bíblico
“Amar os Inimigos (5.43-48). […]Para o mandamento bíblico, Amarás o teu próximo (43; Lv 19.18), [Jesus] Ele inseriu um acréscimo feito pelos mestres judeus, e aborrecerás o teu inimigo. Esta segunda parte não é encontrada em nenhuma passagem nas Escrituras Sagradas. Henry expôs bem a sua opinião: ‘Deus disse: Amarás o teu próximo; e por próximo eles entenderam somente aqueles de seu próprio país, nação e religião…; deste mandamento… eles quiseram inferir o que Deus nunca disse: Odiarás o teu inimigo”.
Jesus se opôs a este falso ensino através do incisivo mandamento: Amai a vossos inimigos (44). É natural amar os amigos; amar os inimigos é sobrenatural. Mas aqueles que assim o fazem demonstram que são filhos do Pai que está nos céus (45)” (CHILDERS, Charles L.; EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood (Eds.) Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas. Vol.6. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.61).
A valorização do Amor ao próximo
O amor não é preconceituoso.
A seguir, vem o ponto central desta lição ao tratar o senhor do relacionamento do cristão com seus adversários. No v.43, “aborrecerás o teu inimigo”, foi um acréscimo à lei divina pelos rabinos de então. Jesus aqui estabelece quatro níveis de atitudes: a) amar os inimigos; b) falar bem dos que nos maldizem; c) fazer o bem aos que nos odeiam, e e) orar pelos que nos maltratam (v.44). Em outras palavras, os termos que o Senhor propõe são absolutos.
O propósito é inculcar em nossa mente que o amor de Deus derramado em nossos corações (Rm 5.5) não é preconceituoso, mas é capaz de ignorar as ofensas e amar os inimigos, contribuindo de todas as formas para que sejam restaurados (ver Rm 12.20; 1Co 13.4-7). Jesus cimenta seu ensino em pauta mostrando que o Pai celestial faz com que “o sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos” (v.45). E lança um repto, deixando claro que este deve ser o nosso comportamento, se queremos ser “filhos do Pai que está nos céus”.
O amor não é seletivo.
Mais adiante, nos versos 46 e 47, para reforçar o conceito o Mestre afirma com clareza meridiana que o amor não é seletivo. Segundo ele, fácil é saudar o amigo, aquele que nos favorece, ou os próprios irmãos. É certo continuar agindo desta forma, mas o galardão está em ter a capacidade de estender a mão ao inimigo. Se ele recusar o nosso gesto, a questão foge ao nosso controle, mas naquilo que nos compete, devemos fazer o possível para ter paz com todos os homens (Rm 12.18,19).
Diante do exposto, fica a pergunta: quem poderá cumprir tais níveis de exigência? Para respondê-la, temos de voltar ao âmago do Sermão do Monte. O objetivo de Cristo não foi realçar a força da lei, porque ela não consegue remover as causas dos males e dos problemas. Desde a exposição das bem-aventuranças o Mestre veio mostrando que a raiz de tudo está no coração. As coisas têm de mudar a partir daí, pois só quando alguém se despoja de si mesmo para que Cristo seja entronizado em sua vida, poderá caminhar em busca da perfeição almejada por Deus para os que lhe servem (v.48; Fp 3.4-12).
Argumento Bíblico
Sobre a Perfeição – “Deus graciosamente concede, a todos aqueles que buscam, um amor perfeito por Ele e por sua vontade. Depois disso, o cristão busca uma manifestação ainda mais perfeita desse amor em sua vida e conduta. Por sermos finitos, essa perfeita manifestação nunca será completamente alcançada neste mundo, mas cada seguidor consagrado de Cristo deve, constantemente, se esforçar para alcançá-la (cf. Fp 3.12-14). O contexto imediato dos versículos 17-47 é importante, mas isso não é tudo. A perfeição aqui deve ser explicada em termos de um contexto maior – todo o capítulo cinco.
O comentário de John Wesley sobre este versículo é: “Referindo-se a toda esta santidade que é descrita nos versículos anteriores, que o nosso Senhor no início do capítulo recomenda como felicidade, e, na conclusão dele, como perfeição”.41 Estes seis últimos parágrafos do capítulo sugerem seis “Características da Perfeição Cristã”. Elas são: 1) pacifismo (21-26); 2) pureza (27-30); 3) harmonia (31-32); 4) honestidade (33-37); 5) bondade (38-42); 6) amor (43-48)” (CHILDERS, Charles L.; EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood (Eds.) Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas. Vol.6. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.62).
Conclusão
O maior exemplo do que significa esta renúncia está nas palavras de George Müller, citadas por Martin Lloyd-Jones: “Houve um dia em que morri, morri totalmente, morri para George Müller e suas opiniões, preferências, gostos e vontade; morri para o mundo, sua aprovação e censura; morri para a aprovação ou condenação da parte de meus próprios irmãos e amigos. E, desde então, tenho-me esforçado tão somente para ser aprovado diante de Deus”.