A Tolerância Cristã
A tolerância cristã é algo que devemos seguir em nossas vidas. Paulo escreve a fim de intervir em alguns problemas internos da igreja em Roma.
Havia entre os cristãos dois grupos partidários: os fracos na fé — que hesitavam em comer determinados alimentos —, e os fortes na fé — que se consideravam esclarecidos para viver a liberdade cristã sem observar leis dietéticas.
O primeiro distinguia os alimentos entre “puro” e “impuro” e, o segundo acreditava que “todas as coisas são lícitas” (1 Co 6.12).
Texto Bíblico Romanos 14.1-10,12.
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ToggleFracos e Fortes na Fé
Havia na igreja em Roma dois grupos bem definidos: os “enfermos na fé” (14.1) e os fortes (15.1). Paulo pertencia ao segundo grupo.
É preciso observar a relação existente entre o assunto tratado no capítulo 14 de Romanos e em outras exortações paulinas aos Coríntios (1 Co 10.22-33), Gálatas (4.9,10) e colossenses (2.16-23).
As semelhanças entre essas epístolas concernentes ao tema descrito são apenas aparentes. Na igreja em Corinto, os fracos na fé não comiam as carnes sacrificadas aos ídolos que eram vendidas no mercado público, porque temiam cometer o pecado de idolatria. Não é este o caso na igreja em Roma.
Em Corinto, o problema é religioso; em Roma, provavelmente ascético. Na igreja dos gálatas, o problema está na observação dessas normas dietéticas como necessárias à salvação.
Em Roma, o problema é cultural, mas na Galácia é soteriológico. Em Colossos, a abstinência de alimentos estava relacionada à observação de um calendário ascético proposto pelos adeptos do gnosticismo, logo, a prática era uma manifestação herética deste grupo.
Por estas razões, Paulo suporta a fraqueza de alguns crentes romanos, enquanto é intolerante a tais práticas nas demais igrejas citadas. Contudo, sabemos que a Igreja de Cristo é constituída de diferentes pessoas.
São cristãos que têm valores e formações distintas e com qualificações diversificadas. Não obstante estarem unidos numa só fé, continuam sendo diferentes, pois são únicos. Devemos portanto, praticar a tolerância Cristã.
Tipos de Cristãos
Um ponto interessante a ser destacado, no texto em estudo, é a diferença entre os vários tipos de crentes na igreja de Roma. Isto significa que há, entre os filhos de Deus, diferentes níveis de conhecimento e de fé.
Há os crentes meninos, os maduros, os carnais, os espirituais, os fracos, os fortes etc. (Ef 4.14; 1 Co 3.11; 1 Co 8.11). Todos somos crentes, nascidos de novo.
No entanto, cada um de nós tem um modo próprio de vivência cristã e de enfrentar os problemas e as necessidades do cotidiano. Todos temos uma reação diferente diante das mesmas circunstâncias; um jeito peculiar de ver e julgar as situações.
1 – Cristãos fortes.
A igreja de Roma enfrentava problemas semelhantes aos de Corinto e de Colossos (1 Co 8; Cl 2.16-23): conflitos entre os cristãos fracos e os fortes (1 Co 8.7).
Os fortes são os que conhecem a Palavra de Deus; os fracos ainda não alcançaram o verdadeiro entendimento das coisas espirituais.
Quando o homem aceita a Cristo, sente imediatamente a necessidade de crescer no conhecimento da fé que abraçou e de desenvolver-se na salvação conforme nos ordena a Bíblia: “Operai a vossa salvação com temor e tremor” (Fp 2.12).
Muitos, infelizmente, negligenciam a busca pelo crescimento espiritual. O escritor aos Hebreus chegou a dizer que gostaria de ministrar um ensino mais substancial aos seus leitores; estes, porém, ainda não podiam receber algo mais substancial devido à sua falta de crescimento (Hb 5.11-14).
2 – Cristãos fracos.
Em geral, por falta de conhecimento, os cristãos fracos suscitam uma infinidade de barreiras que acabam por comprometer o seu crescimento espiritual.
Em Roma, por exemplo, os cristãos de origem judaica achavam que comer carne era pecado; outros, ainda presos à lei de Moisés, guardavam o sábado e outros dias tidos como sagrados pelo judaísmo.
Quanto a tais coisas a Bíblia diz: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão” (Gl 5.1).
3 – Perigos para fortes e fracos.
Os fortes correm o risco de se tornarem arrogantes, desprezando aos que têm menos conhecimento. A solução, portanto, é que eles se portem com humildade e amor: “Se o manjar escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão se não escandalize” (1 Co 8.13).
Os fortes tendem a se portar como o fariseu que, soberbamente, agradecia a Deus “por não ser como os demais” (Lc 18.11).
O orgulho sempre estará rondando os irmãos mais fortes na fé; eis porque estes devem revestir-se de humildade. Julgar os demais é o pecado em que pode incorrer o irmão mais fraco.
Como ele, que não come carne, acha-se no direito de julgar os que o fazem, condena a postura de seus irmãos na fé por causa de questões secundárias e que nenhuma importância tem para a fé cristã. Leia mais sobre a formação do caráter cristão.
A questão do Alimento
1 – Enfermo e fraco (vv.1,2).
As palavras, “enfermo” e “fraco” não significam, nesse contexto, fé vacilante, mas imaturidade nas questões práticas, pois muitos deles são sinceros e tementes a Deus.
A questão não era sobre pontos vitais da doutrina cristã; do contrário, não seriam membros da Igreja, mas sobre assuntos secundários.
A ingestão de carnes. Para os judeus, alguns tipos de carne eram terminantemente proibidos. Levando-se em conta que, em Roma, ofereciam-se também carne aos ídolos, os cristãos de origem judaica não somente a evitavam, como também criticavam os crentes gentios por usarem-na em sua dieta.
Havia também alguns crentes de origem gentílica que se abstinham de carne, já que corriam o risco de comer algo sacrificado aos ídolos.
E o que dizer dos que pregavam o ascetismo? Eles não somente ensinavam que não se podia comer carne como também se punham contra o casamento.
Tais ensinamentos foram considerados por Paulo como “doutrinas de demônios” (1 Tm 4.1-8). O ensino bíblico quanto a isso é bastante claro.
Paulo afirma que todas as coisas que Deus criou são boas (1 Tm 4.4) e que nada, em si, é imundo (Rm 14.14). O próprio Cristo asseverou: “nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar” (Mc 7.15,18,19).
a) Não contender.
“Recebei-o” significa que devemos receber a cada irmão como ele é e não como queremos que ele seja. Não temos o direito de impor a ele a nossa maneira de ver o Cristianismo, nem discutir na tentativa de convencê-lo do contrário (1Co 11.16; 1Tm 6.4). Devemos recebê-lo com amor sincero dentro da fraternidade cristã.
b) Convivendo com os enfermos e fracos.
A questão dos bêbados, por exemplo, a Bíblia diz que os tais não herdarão o reino de Deus — a menos que se convertam (1Co 6.10,11).
O crente que se associa com os tais está pecando (1Co 5.11). Não é o caso aqui. Esses enfermos e fracos são nossos irmãos que ainda não se emanciparam de sua escravidão espiritual.
2 – Legumes (v.2).
Convém lembrar que o vegetarianismo religioso teve a sua origem no hinduísmo. Os gnósticos eram também vegetarianos. Havia até os que considerasse canibais aquele que comesse carne.
Talvez alguns judeus tivessem chegado a esse extremo por causa de uma interpretação judaica forçada de Deuteronômio 14.21: “Não cozerás o cabrito com o leite da sua mãe”.
Não é permitido ao judeu consumir a carne do cabrito juntamente com o leite da cabra, mãe do animal, como faziam os povos idólatras, vizinhos de Israel.
Os judeus, portanto, evitando correr o risco de o leite comercializado ser da mãe do cabrito comprado no açougue, resolveram proibir o consumo de carne com leite.
3 – Restrição alimentar dos cristãos.
A única restrição alimentar dos cristãos está na determinação do Concílio de Jerusalém (At 15.20,28), com relação ao sangue, carne sufocada e sacrificada aos ídolos.
Mesmo assim, essa determinação parece mais injunções do que ordenanças obrigatórias (Rm 14.13-16; 1Co 8.7-13; 10.27-29), pois, Paulo defendia essa liberdade cristã (vv.14,20; 1Co 10.25; 1Tm 4.4,5).
4 – Evitando o risco.
O crente fraco ou enfermo mencionado nos vv. 1,2 deve ser judeu muito escrupuloso quanto à alimentação, o qual resolveu ser vegetariano para evitar o risco de comer carne sacrificada aos ídolos ou sufocada.
Abster-se de alimento por questões de saúde é algo pessoal. Praticar, porém, tal coisa como condição para ir ao céu, a ponto de criticar os que não seguem esse padrão, isso caracteriza seita.
A questão dos dias
Provavelmente, a expressão “um faz diferença entre dia e dia” (v.5) trata-se dos dias especiais de festa segundo as leis cerimoniais do Antigo Testamento.
O comentário da é do parecer que alguns cristãos, mormente os judeus cristãos, ainda consideravam que os dias sagrados do Antigo Testamento continuavam válidos, ao passo que muitos outros os tinham como dias comuns.
1 – O sábado.
O fim do sábado estava previsto nos profetas (Os 2.11). A palavra profética previa a chegada do Novo Concerto (Jr 31.31-33) e o fim do sábado que se cumpriu em Jesus (Cl 2.14-17).
A questão não é o sábado em si, mas o fato de que não estamos debaixo do Antigo Concerto (Hb 8.6-13), por essa razão o sábado não aparece nos quatro preceitos de Atos 15.20,29.
2 – O sábado cerimonial.
As festas judaicas eram anuais, mensais ou lua nova, e semanais (1Cr 23.31; 2Cr 2.4; 8.13; 31.3; Ez 45.17). O sábado cerimonial ou anual já está incluído na expressão “dias de festa”, que são as festas anuais; “lua nova”, mensais; e “dos sábados”, festas semanais (Cl 2.16).
No versículo seguinte o apóstolo diz: “Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Cl 2.17). Isto é: são figuras das coisas futuras, que se cumpriram em Jesus. Por isso que Jesus afirmou ser Senhor do sábado (Mc 2.28).
3 – Constantino e o Domingo.
Afirmar que o imperador romano, Constantino, substituiu o sábado pelo domingo é uma falácia. A palavra “domingo” significa “dia do Senhor”.
Isso porque nesse dia Jesus ressuscitou (Mc 16.9). O primeiro culto cristão aconteceu num domingo (Jo 20.1) e o segundo também (Jo 20.19,20).
As reuniões cristãs de adoração aconteciam no primeiro dia da semana (At 20.7; 1Co 16.2). À pouca essa prática foi se tornando comum, sem decreto e sem imposição. Foi algo espontâneo. O imperador apenas confirmou uma prática cristã antiga.
Obs.: No Antigo Testamento, os judeus eram obrigados a observar certos períodos e dias santificados. Além disso, eles, por si mesmos, introduziram outras ordenanças que, conforme denunciara o Senhor Jesus, não passavam de mandamentos de homens (Mt 15.8,9).
4 – Lição prática.
O apóstolo conclui que “cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo” (v.5b) e que “aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz” (v.6). Isto é: quando adoramos não é tão importante, quanto o que, como e por que adoramos. O que realmente importa é Cristo ser o centro em tudo quanto o crente faz.
A posição do Apóstolo Paulo
1 – O que o apóstolo condena? (vv.4,10).
Nem o crente enfermo ou fraco e nem o mais esclarecido espiritualmente são a preocupação do apóstolo. Isso porque ambos agiam de forma diferente com o propósito de servir a Deus (vv.6,7).
Contudo, o que ele condena é a crítica e não essas práticas: “Quem és tu que julgas o servo alheio? ” (v.4) “Mas, tu, por que julgas teu irmão?” (v.10). A preocupação do apóstolo era evitar divisões na Igreja por causa de assuntos secundários.
2 – O respeito à consciência cristã.
O apelo do apóstolo era que houvesse respeito mútuo entre os crentes. Cada um deve seguir a sua consciência cristã (v.5). Se algo lhe parece pecado, se a consciência lhe acusa, não deve praticar tal coisa, pois se assim fizer estará pecando (v.23). Nem por isso deve criticar os outros (Tg 4.11,12).
3 – Cada um prestará contas a Deus (vv.10-12).
Com essas palavras o apóstolo está dizendo que devemos deixar as coisas secundárias com a pessoa e Deus. Ninguém tem o direito de interferir na vida privada do cristão. As questões do alimento e dos dias são de somenos importância, mas a crítica Deus não tolera (Pv 6.16-19; Tg 1.26).
Obs.: O Dicionário Teológico, CPAD, traz uma definição clara de consciência com aplicação aos cristãos e que se encaixa ao que o apóstolo quis dizer no v.5: “Do latim, conscientia, senso íntimo. Voz secreta que temos na alma que aprova ou reprova nossos atos. E alimentada pelo direito natural que o Todo-Poderoso incutiu em cada ser humano. Se a consciência não for devidamente educada, fatalmente será induzida a esquecer-se dos reclamos divinos. Eis a melhor forma de se educá-la: instrui-la na Palavra Deus”.
Argumento Teológico
“Grande parte da discussão no capítulo 14 diz respeito a certos tipos de alimento que são imundos. A palavra grega ‘koinos’ (imundo, impuro) era usada pelos judeus para simbolizar o que era profano ao invés do que era sagrado (Mc 7.2,5).
Mas, a proeminência deste conceito em Romanos 14 também sugere que a disputa dietética entre os crentes romanos estava sendo continuada entre judeus, que desejavam observar os regulamentos dietéticos, e gentios, que não tinham interesse em tal restrição de liberdade.
Assim, a controvérsia na comunidade cristã em Roma gira em torno das práticas de comer carne, da observância de certos dias como mais santos que os outros e do vinho (a última atividade recebe menos ênfase no texto).
Os que comiam carne, bebiam vinho e desconsideravam o valor particular relacionado a certos dias são chamados de ‘forte’ (Rm 15.1); os que faziam o oposto são os ‘fracos’ (15.1), ou débeis na fé.
A associação dos fracos com os que se privam de comer carne por causa das categorias de limpo e imundo (Rm 14.2,14) mostra que os judeus eram os que Paulo considerava fraco, e os gentios, fortes.
Claro que esta é uma simplificação do assunto. As divisões nas igrejas que se reuniam nas casas romanas não estavam tão nitidamente delineadas na linha étnica.
Certamente havia judeus como Paulo que apoiavam os ‘fortes’. Reciprocamente, havia alguns gentios convertidos ao cristianismo que, tendo entrado na Igreja pela sinagoga como pessoas tementes a Deus ou mesmo como prosélitos judeus, favoreciam a retenção das práticas judaicas que eles tinham adotado.
É natural que estas pessoas teriam esperado que os outros cristãos seguissem esse mesmo padrão de obediência à lei de Deus. Jesus Cristo é o nosso modelo supremo de caráter.
A preocupação
[…] A preocupação dos fracos era com a preservação de certas práticas que eles consideravam expressões necessárias da fé cristã.
A questão, como Paulo a vê, não é sobre legalismo — se for entendido como um sistema no qual certos rituais são observados como meio de se obter a graça —, porque Paulo aborda os fracos como os que já foram aceitos por Deus (Rm 14.3; 15.7). Em outras palavras, a questão não é sobre como se tornar crente, mas como agir como tal.
Nas palavras de Cranfield, estes crentes judeus sentiam que ‘era somente ao longo deste caminho particular que eles podiam expressar obedientemente sua resposta de fé à graça de Deus em Cristo’.
As leis dietéticas e a observância de dias santos, quer sejam sábados ou dias de festa, eram marcas identificadoras dos judeus na Palestina e na Diáspora.
Era-lhes difícil conceber que estes identificadores, que tinham sido tão críticos para eles se verem como o povo do concerto de Deus, agora deviam ser abandonados. ” (Van Johnson. Romanos. In ARRINGTON, F. L.; STRONSTAD, R. Comentário bíblico pentecostal. RJ: CPAD, 2003, pp.903-4).
Conclusão
O objetivo maior de todo o crente deve ser o crescimento do Reino de Deus e a edificação da Igreja. Tudo o que o cristão vier a ser, ou a fazer, deve objetivar o desenvolvimento do corpo de Cristo, nunca para o seu prejuízo. Toda sua conduta deve ser guiada pelo amor aos demais irmãos.