A Humildade e o Amor Desinteressado
A interpretação da parábola dos primeiros lugares e dos convidados ensina-nos grandes verdades prático-espirituais.
Texto Bíblico Lucas 14.7-14
Neste artigo você estudará sobre:
ToggleSíntese da Parábola dos primeiros assentos e dos convidados
Nos dias em que Jesus andou sobre essa terra, os judeus costumavam, após o grande culto realizado nos sábados nas sinagogas, se banquetearem com uma generosa refeição. Nessas ocasiões não era incomum a presença de vários convidados.
Foi numa ocasião como essa que um fariseu convidou Jesus para comer em sua casa após o culto. O convite parecia ser sincero, mas a intenção do fariseu era tentar armar uma situação onde Jesus transgredisse a lei dos anciãos com respeito ao dia do Sábado. ver Lucas 14:1—4.
Conforme o que foi planejado pelo fariseu, um homem hidrópico foi colocado bem na frente do lugar em que Jesus deveria sentar. Mas o que é um hidrópico? A hidropisia é uma condição de saúde onde uma pessoa acumula, de forma mórbida, serosidade — líquido segregado pelas membranas serosas — em qualquer parte do corpo, principalmente no abdome. A intenção oculta do fariseu era ver se Jesus curaria aquele homem, visivelmente doente, ou não em dia de Sábado. Ou talvez Jesus poderia optar para o sábado terminar, por volta das 18 horas, e então curar o tal homem.
Observação:
“Na época de Jesus, o costume judaico em um jantar era dispor os assentos em forma de U com uma mesa baixa diante deles. Os convidados se apoiariam no cotovelo esquerdo, e estariam sentados de acordo com a sua posição social, sendo o lugar de honra o assento no centro do U.
Quanto mais distante do lugar de honra, menor o status. Se alguém se colocasse no primeiro lugar e então chegasse outro convidado mais digno, lhe pediriam que passasse para um lugar inferior. Mas a esta altura o único lugar vago seria o derradeiro, no final da mesa” (Comentário do Novo Testamento. Vol 1. 1.ed. Rio de Janeiro: (PAD, 2009, pp.417-18).
A atitude de Jesus
Sem demora Jesus tomou a iniciativa e curou imediatamente aquele homem que sofria de hidropisia, mandando-o para sua própria casa — ver Lucas 14:1—4. Esse foi verdadeiramente um gesto relacionado a humildade e o amor desinteressado de Jesus.
Jesus tomou essa decisão por causa da indignação que sentiu ao notar a falta de compaixão por parte dos fariseus que se recusaram a responder uma simples pergunta que Jesus lhes dirigiu, dizendo: É ou não é lícito curar no sábado? Como se recusaram responder a essa simples pergunta, Jesus prosseguiu e curou o homem enfermo mandando-o em seguida para sua casa.
Para caracterizar ainda mais a total falta de compaixão e a dureza daqueles corações empedernidos Jesus faz então, uma pergunta adicional: Qual de vós, se o filho ou o boi cair num poço, não o tirará logo, mesmo em dia de sábado? A calhorda farisaica também se recusou responder a essa segunda pergunta.
O motivo da recusa deles era um só: eles sabiam que pela verdadeira Lei, a de Moisés, não havia nada que impedisse fazer o bem no dia do Sábado. Mas a amaldiçoada lei dos anciãos que havia substituído a verdadeira Lei de Deus proibia fazer tal bem.
E como eles estimavam serem mais leais aos homens do que a Deus, preferiram ficar em silêncio, como mudos, olhando para Jesus como verdadeiros parvos. João 12:43 Porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus.
Argumento Exegético
“A parábola é, na verdade, uma repreensão de muitos à mesa de jantar. Na maioria das culturas, há lugares de muita e de poucas honras numa refeição (Bratcher, 1982, p.244).
Pessoas de posição social mais alta têm lugares mais próximos do anfitrião. Para ensiná-los a ordem das coisas de Deus, Jesus começa exortando-os a que, se são convidados a um casamento, tomem os lugares mais baixos. Urna pessoa de mais destaque que eles pode ter sido convidada.
Se um convidado chegar antes dessa pessoa e tomar o assento mais próximo do anfitrião, ele corre o risco de ser humilhado. O anfitrião pedirá àquele que está num lugar de honra a sair. O convidado presunçoso talvez descubra que a maioria dos lugares está ocupado, o que o forçará a ocupar um lugar menos desejável.
Sua autopromoção o levou à vergonha e humilhação. “Jesus não recomenda a prática da falsa humildade, mas o convidado que, de começo, toma o lugar mais humilde não se arrisca a passar vexame.
Lugar de honra
De fato, quando o anfitrião o vir sentado em lugar humilde, ele o convidará a se sentar mais para cima. Isto lhe dá honra aos olhos de todos os convidados no casamento. “Jesus se dirigiu aos convidados.
Agora Ele se volta para o anfitrião. 0 que Ele lhe diz também se aplica aos líderes religiosos, Os fariseus excluíam os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos da plena participação da vida religiosa. Para contornar esta prática, Jesus indica que a hospitalidade deve ser estendida a todos e adverte contra incluir somente os amigos, os parentes, os ricos e os famosos.
– “A tentação é entreter só o nosso grupo. Quando um anfitrião convida outros para jantar em sua casa, ele deve incluir aqueles que não lhe podem devolver o favor. Se ele sente que os convidados vão retribuir-lhe o convite, o que ele deu? Nada! É apenas comércio, sem ter generosidade.
Sua hospitalidade é motivada por desejo de recompensa. Mas a verdadeira hospitalidade e generosidade ocorrem quando não há possibilidade de retribuição. Aqueles que querem agradar a Deus devem alcançar os pobres e os que sofrem de incapacidade física ou mental Jesus não proíbe que convidemos os que podem nos retribuir o convite, mas proíbe que esqueçamos os que não estão em posição de retribuir.
A generosidade e a bondade não devem ser usadas para ganhar poder sobre os outros e a colocá-los em dívida para conosco. A verdadeira hospitalidade, instigada por amor genuíno, não tem restrições” (ARRINGTON, F. L. in ARRINGTON, French L.; STRONDAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal 1.ed. Rio de Janeiro; CPAD, 2003, pp.415,416).
A atitude condenável dos convidados
Mas Jesus não ia deixar aquela turma sair ilesa daquela situação.
No meio daquele ambiente que lhe era totalmente hostil, Jesus observou que vários dos convidados tinham ocupado, de forma egoísta, os melhores lugares junto à mesa onde a refeição seria servida. Jesus então, como era muitas vezes seu costume, inventou uma história — uma parábola — para ensinar àqueles homens, cheios de orgulho e de corações e sem consideração por outras pessoas, uma verdadeira lição de humildade.
O casamento
A história de Jesus narra uma festa de casamento para a qual várias pessoas haviam sido convidadas. Naqueles dias, um banquete ou mesmo um almoço com vários convidados era servido com os assentos sendo dispostos ao redor de uma mesa na forma de uma ferradura, que variava de cumprimento, de acordo com a quantidade dos convidados.
Junto à cabeceira da mesa sentava-se a pessoa mais importante entre os convidados, seguido pela ordem de importância pelas outras pessoa, que tomavam seus assentos à direita e à esquerda.
Cada um dos assentos, geralmente, podia acomodar até três pessoas com a mais importante ocupando o lugar central. O assento à esquerda do convidado principal era o segundo em prioridade, seguindo-se do assento à direita.
Em uma festa normal, os convidados se comportavam de modo civilizado esperando uns pelos outros, para tomarem seus lugares de modo apropriado. Mas nessa história que Jesus conta, a escolha estava a critério de cada convidado o que era a oportunidade para cada um deles demonstrar todo egoísmo, preconceitos e orgulho que escondiam em seus corações de pedra.
Foi exatamente isso que aconteceu naquele dia na casa do fariseu, que havia convidado o Senhor Jesus para participar da refeição comunitária em sua casa.
Os fariseus e os doutores da Lei ou escribas, por se considerarem superiores às outras pessoas, acabaram por criar um ambiente onde a soberba e a arrogância eram marcantes. Mas o amor e a humildade estavam completamente ausentes. Jesus aproveitou aquela situação para ensinar uma lição em auto-humilhação para todos aqueles indivíduos.
Evangelho de Lucas
Essa parábola, como tantas outras é encontrada apenas no Evangelho de Lucas. Mas o sentimento geral que a mesma expressa pode ser encontrado em outros lugares, tais como:
Mateus 18:4 Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus.
Mateus 23:12 Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado.
Romanos 12:16 Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos.
1 Pedro 5:6 Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte.
E outra passagem que não podemos deixar passar despercebida é a de João 13 onde o humilde Jesus lava os pés de seus discípulos, como um exemplo para eles.
Lições de Jesus
Tanto os fariseus quanto os doutores da lei eram conhecedores do Antigo Testamento, em boa medida. Certamente não lhes eram desconhecidas as palavras de Salomão que encontramos em — Provérbios 25:6—7. 6 Não te glories na presença do rei, nem te ponhas no meio dos grandes; 7 porque melhor é que te digam: Sobe para aqui!, do que seres humilhado diante do príncipe.
Todos sabiam que Jesus estava se referindo a esse versos do Livro de Provérbios, quando decidiu descrever uma salão repleto de convidados assentados ao redor da mesa para a celebração das bodas de alguém.
Os doutores da lei, de modo especial, eram notoriamente conhecidos por procurarem sempre os melhores lugares em qualquer banquete. Isso pode ser visto em passagens tais como Mateus 23:6 Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas.
Marcos 12:38—39. 38 Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes talares e das saudações nas praças; 39 e das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos primeiros lugares nos banquetes; Lucas 20:46 Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes talares e muito apreciam as saudações nas praças, as primeiras cadeiras nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes.
De repente, um convidado mais importante chegou, quando todos já haviam escolhido e ocupado seus lugares. Era impossível para o anfitrião permitir que tão ilustre convidado ocupasse um lugar considerado inferior. Se agisse assim estaria cometendo uma quebra imperdoável da etiqueta dos seus dias.
Sua única saída era pedir ao indivíduo que ocupava o lugar de honra para que desocupasse o mesmo e fosse se assentar num outro lugar de menor destaque. Depois disso convidaria o ilustre participante para se assentar no lugar de maior destaque. Certamente o convidado humilhado aprenderia uma lição que seria difícil de esquecer.
Devemos aprender
Qualquer indivíduo ao chegar ao banquete deveria pensar nas outras pessoas e, com isso, ocupar um lugar de menor destaque. Caso o anfitrião achasse que alguém estava ocupando um lugar não tão destacado, sempre poderia chamá-lo para ocupar um lugar mais elevado. Caso isso acontecesse tal pessoa seria grandemente honrada diante dos outros.
Mas é importante entendermos que a intenção de Jesus não era ensinar apenas boas maneiras à mesa. Jesus queria ensinar uma lição de verdadeira humildade a todos que estavam presentes naquela refeição bem como para o anfitrião também.
Jesus diz para o anfitrião o seguinte: não convide ninguém com o interesse de ser recompensado. Essas palavras nos lembram o sermão do monte onde o Senhor diz: Mateus 5:46 Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?
Jesus desejava que o anfitrião convidasse pessoas quem não podiam retribuir o favor. Se agisse desse modo sua recompensa lhe seria dada por meio das mãos do próprio Deus.
Convidando os mais pobres para a festa
Mas quem nesse mundo daria uma festa e convidaria a classe mais baixa da sociedade? Quem convidaria os coxos, os aleijados, os pobres, os cegos? Essas pessoas precisam de ajuda e não estão em condições de retribuir nenhum tipo de favor.
Todas as vezes que estendemos os prazeres da mesa a pessoas que não têm condições de desfrutar de tais prazeres, restrito aos que têm posses, a retribuição divina é merecida, segundo Jesus. É obvio que Jesus não queria ensinar que o certo é convidar apenas os pobres.
O convite feito por Deus vale para todas as pessoas – Isaías 55:1—2.1 Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.
Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares. O que Jesus quer nos ensinar é que devemos fazer todas as coisas sem esperar nenhuma reciprocidade.
Nossas ações devem ser oferecidas como atos de amor e humildade desinteressada. São essas ações que recebem a aprovação divina —Mateus 25:40. O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Conclusão
Sabemos que o propósito de Jesus ao contar esta parábola é focar o valor da humildade. Os fariseus eram orgulhosos de sua religiosidade. No Reino de Deus, o que vale não é nosso orgulho ou realizações, mas nossa submissão à vontade de Deus – nossa obediência.