Ética Cristã e Doação de Órgãos

Ética Cristã e Doação de Órgãos

Ética Cristã e Doação de Órgãos

A doação de órgãos humanos é um ato de amor e de solidariedade. O verdadeiro cristão precisa atentar aqui para a sua consciência, que deve estar sempre alinhada aos parâmetros bíblicos para que possa atuar segundo a reta justiça.

Texto Bíblico 1 Coríntios 15.35-45

O que é doação de Órgãos

Eu me alimento das mãos de Deus

A doação de órgãos é a concordância expressa, ou presumida, por parte de uma pessoa, consentindo que seus órgãos sejam retirados após sua morte para serem aproveitados por pessoas portadoras de doenças crônicas, visando aumentar-lhes sua sobrevida.

Transplantes de órgãos.

a) Transplantes comuns.

As pessoas, evangélicas ou não, já se acostumaram a ouvir falar em transplante de rins. Não há grande questionamento a respeito dessa prática médica quando um doente renal crônico tem sua vida normalizada, ao receber o transplante de um rim, de uma pessoa viva, às vezes um parente, ou de pessoa amiga.

O rim é um órgão par que permite ao doador viver bem mesmo tendo cedido um deles. Outra doação que também não causa controvérsia é a de sangue, elemento de importância vital para o funcionamento do corpo.

b) Argumentação contrária à doação de sangue.

Há quem pense que a transfusão de sangue é uma forma de “comer” sangue, o que é proibido pela Palavra de Deus.

Este tipo de argumentação contrária à doação não tem consistência, visto que o processo de absorção do sangue, diretamente nas veias do receptor, não é o mesmo que ocorre quando da ingestão de algo através do aparelho digestivo. É ignorância de quem pensa diferente.

O transplante de parte do fígado, de igual modo, tem sido realizado com relativo sucesso, pois é um órgão que se regenera completamente.

Quanto ao transplante de órgãos, por doação, entre pessoas vivas, não vemos qualquer implicação ética, à luz da Bíblia, caso a consciência de ambos, doador e recebedor, esteja em paz e sem dúvidas. Ler Rm 14.1-23; 1 Co 8.7-13; 10.23-33.

A nossa consciência para atuar corretamente precisa estar alinhada e sintonizada com a Palavra de Deus. A consciência em si mesma não é juiz. Muitos servos de Deus têm sido salvos de morte certa, beneficiados por um transplante bem sucedido.

Doação após a morte.

Há uma lei brasileira que torna disponíveis órgãos para transplantes extraídos de pessoas mortas.

Eu me alimento das mãos de Deus

Em 04 de fevereiro de 1997, após muitas discussões, com argumentos pró e contra, foi publicada a Lei 9.434, referente à “doação presumida” de órgãos humanos.

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De acordo com essa norma, todo brasileiro que não registre em sua carteira de identidade ou de motorista, a observação não doador, é considerado doador presumido.

Com ou sem a autorização da família, o médico pode declarar a “morte cerebral” do paciente, e, nesse caso, os órgãos deste são retirados para serem implantados no corpo de algum doente crônico, visando restituir-lhe a saúde.

Observações:

1. Transplante

O transplante de órgãos e tecidos é uma ciência médica, que consiste na remoção de um órgão enfermo e em sua substituição por ou­tro que, na maioria das vezes, procede de um cadáver.

No caso dos rins e do fígado, a doação e a recepção podem ocorrer inter vivos. Transplantam-se órgãos inteiros, como o coração, ou partes de um órgão, como o fígado. Transplanta-se também pele, visando a recuperação de áreas atingidas por queimaduras graves.

2. Xenotransplante

Além da transplantação clássica, há outras que se encontram em fase experimental como, por exemplo, o xenotransplante: o enxerto de órgãos animais em seres humanos.

A essa transplantação dá-se o nome também de heteróloga. […] Trata-se de um tema bastante delicado e que vem sendo discutido com muita expectativa e interrogações (ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã, 1.ed. Rio de 3aneiro: CPAD, 2017, pp.122,23).

Argumentos Contrários

Existem argumentos comuns e populares contrários à doação de órgãos, mesmo entre evangélicos:

Receio de que haja comercialização de órgãos humanos.

É o medo de se tornar uma cobaia. Infelizmente, a imprensa já chegou a noticiar casos em que sangue e outros órgãos foram objeto de venda, causando desconfiança entre muitas pessoas.

Eu me alimento das mãos de Deus

Receio que haja discriminação.

É a preocupação com o uso de órgãos de modo diferenciado para pobres ou para ricos.

A integridade do corpo.

Na cultura judaico-cristã, o corpo é considerado sagrado, e a retirada de órgãos é uma forma de profanação do corpo.

A esperança de um milagre.

Há irmãos que são contrários à retirada de órgãos por crerem que Deus pode realizar um milagre de ressurreição do morto.

Preocupação com a ressurreição.

Há, até, crentes que se preocupam com o fato da ressurreição, alegando que naquele momento faltaria uma parte do corpo em caso de doação de um órgão. Os tais precisam ser esclarecidos mediante a sã interpretação das Escrituras.

Posicionamento Cristão

Fazer aos outros o que se quer para si mesmo.

Se um pai tem um filho que sofre de problema cardíaco crônico, irreversível, a quem os médicos dão poucas chances de sobrevida, certamente deseja ansiosamente que os médicos encontrem um coração de alguém, que dê esperanças de sobrevida ao doente. Isto se enquadra no que a Bíblia diz: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mt 7.12).

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A doação de órgãos como expressão de amor.

Salvar a vida de alguém é, sem dúvida, uma demonstração de elevado sentido espiritual e moral. Nosso Senhor Jesus Cristo não apenas doou algum órgão por nós, mas deu toda sua vida em nosso lugar, na cruz do Calvário. Ele se doou, de corpo e alma, para que não morrêssemos.

O apóstolo João nos exorta: “Conhecemos a caridade nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo seu irmão necessitado, lhe cerrar o seu coração, como estará nele a caridade de Deus?” (1 Jo 3.16,17).

Nesse texto, vemos o apóstolo do amor ensinar que devemos “dar a vida pelos irmãos” e que os proprietários de “bens” no mundo que fecham o coração para o irmão necessitado não têm a caridade de Deus. Podemos entender que um órgão a ser doado é um “bem” do mais alto valor para a salvação da vida orgânica de um doente.

Obs: O verdadeiro amor constrange-nos à doação. Não é fácil a uma família tratar de semelhante assunto numa hora em que as lágrimas são mais eloquentes do que qualquer apeio humanitário.

Mas, é justamente aí, que devemos perpetuar a vida do ente que se foi num outro ente que, dependendo de nossa atitude, pode ficar entre nós ainda por um bom tempo.

Que as igrejas, pois, estejam preparadas a fim de auxiliar seus membros a agirem momentos como esse.” Para conhecer mais leia “As Novas Fronteiras da Ética Cristã”, CPAD, p.135.

A falta de órgãos aqui, não tem implicação na ressurreição do corpo.

Na ressurreição, não haverá qualquer problema quanto a ter ou não um determinado órgão.

Há pessoas mutiladas, sem pernas e sem braços, sem olhos, mas que, ao ressuscitarem, terão corpo espiritual perfeito. “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”, (Fp 3.20, 21).

O corpo será “corpo glorioso” e “corpo espiritual” (1 Co 15.42,43), que não precisará de órgãos físicos. O corpo que vai ressuscitar será o corpo que foi sepultado, porém transformado em corpo espiritual. Se assim não fosse, não teria sentido falar-se em ressurreição.

Ressuscitar é trazer à vida aquilo que morreu. Diz o apóstolo Paulo: “Assim também, a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor. Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual.

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Se há corpo animal, há também corpo espiritual” (1 Co 15.42-44). “Animal”, neste texto, significa literalmente “animado pela alma”.

Argumentos Teológicos

Infantilismos teológicos. Há crentes que não se dispõem a doar seus órgãos, por temerem ficar incompletos quando do arrebatamento da igreja. Afinal, como entrarão na Jerusalém Celeste sem o coração?

Ou sem os pulmões? Ou, então, desprovidos de rins?

Na vida futura, todavia, não precisaremos de tais órgãos. Quando todas as coisas se consumarem, nem das gônadas sentiremos falta, conforme sublinha o próprio Cristo: ‘Pois, quando ressuscitarem de entre os mortos, nem casarão, nem se darão em casamento; porém, são como os anjos nos céus’ (Mc 12.25).

Na eternidade, todos seremos perfeitos, como perfeitos são os santos anjos. Por enquanto, necessitamos de órgãos, tecidos, ossos e sangue em virtude de nossa fisiologia. Esta, porém, é transitória.

É o que o apóstolo Paulo deixa bem patente: ‘Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual’ (1Co 15.42-44).

Em vez de especularmos com assuntos tão sérios, exercitemos o amor cristão. Na vida eterna, não precisaremos mais de coração. Então, que este venha a pulsar noutro peito. Que nossos pulmões arfem noutro tórax. E que os rins que, hoje, nos filtram o sangue, venham a beneficiar os que se acham presos à máquina de hemodiálise (ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp.137).

Conclusão

Portanto, fica claro e evidente que a doação de órgãos em vida, como no caso da transfusão de sangue, ou do transplante de rins, não deve ser objeto de reprovação entre os cristãos, ressalvados os casos de consciência, como já foi explanado.

Quanto à doação de órgãos, a serem extraídos de cadáveres, é preciso que se respeite a consciência e vontade expressa (e não apenas presumida) do possível doador, bem como de sua família.

Por outro lado, devemos, como cristãos, demonstrar que a doação de órgãos é um ato de amor, do mais alto sentido, e não apenas de mero sentimentalismo sujeito a mudanças de ponto de vista. Sentimento apenas, não é , nem amor, como reflexo da imagem de Deus no ser humano, principalmente quem teme a Deus.

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