Cristo é a nossa Reconciliação com Deus
A obra do Calvário, em primeiro lugar, derribou o muro que separava Deus dos homens e, consequentemente, dividia judeus e gentios. Em Cristo, fomos feitos herdeiros das mesmas bênçãos espirituais destinadas aos judeus por meio da promessa de Abraão:
Texto Bíblico (Efésios 2.14-19).
Neste artigo você estudará sobre:
ToggleA Doutrina Básica da Reconciliação
A doutrina da «reconciliação», segundo a própria palavra significa, quer dizer, essencialmente, «troca», «permuta». Consiste da mudança da relação de hostilidade que pode existir entre dois indivíduos, passando eles a serem amigos entre si. Essa relação de hostilidade é alterada para a relação de paz.
Há, portanto, a «permuta» de estado. Do estado de paz, em seguida, fluem todas as bênçãos da salvação; isto é, a salvação que se deriva da vida de Cristo. O parecer de Vincent (in loc), quanto a esse particular, é digno de nossa atenção: «No sentido cristão, a mudança nas relações entre Deus e um homem é efetuada por meio de Cristo. E isso envolve:
O movimento de Deus em direção ao homem, tendo em vista quebrantar a hostilidade humana, recomendar o amor e a santidade divina ao homem, e convencendo-o da enormidade de seu pecado e das conseqüências do mesmo. É Deus quem inicia esse movimento, na pessoa e na obra de Jesus Cristo (ver Rm 5:6,8; II Co 5:18; Ef 1:6 e I Jo 4:19).
Por isso é que o verbo é aqui encontrado na forma passiva, fomos reconciliados, pelo ato reconciliador de Deus. Um movimento paralelo ao lado do homem, em direção a Deus em que o homem cede ao apelo do amor de Cristo que foi ao auto-sacrifício, deixando de lado a inimizade, renunciando ao pecado, voltando-se para Deus com fé e obediência.
Uma consequente modificação do caráter do homem; a cobertura, perdão e purificação do pecado; uma total revolução em todas as suas disposições e princípios. A modificação correspondente da parte de Deus, porquanto foi removido aquilo que era a única razão da hostilidade divina contra o homem, de tal modo que agora Deus o acolhe em sua comunhão, prodigalizando-lhe todo o seu amor paternal e a sua graça (ver I Jo 1:3,7). Portanto, a reconciliação é completa. (Ver também o trecho de Rm 3:25,26)».
1 – Os Elementos da Reconciliação
A reconciliação evangélica redunda na completa salvação, ou seja, na participação da plenitude de Deus (ver Ef 3:19) e em sua própria natureza (ver II Pe 1:4). A missão de Cristo é universal, como também exerce efeitos sobre os perdidos, produzindo uma forma de restauração, o que contrasta com a redenção.
Cristo agente; o mundo o objeto. A reconciliação se torna uma realidade por meio dele. Essa é a mensagem central do N.T., o que é reiterado de diversas maneiras. Em si mesmo, o N.T., de acordo com certo ângulo, consiste de uma longa polêmica que busca provar o ofício messiânico de Jesus, e como o Cristo eterno se encarnou nele. Não imputando aos homens as suas transgressões, (II Co 5:14). (Com isso se pode confrontar o trecho de Rm 4:7,8).
O pecado não é imputado sob a condição de fé; de outra maneira, se um homem não tem fé em Cristo e nem reconhece sua soberania, os seus pecados lhe serão imputados. O termo grego «logidzomai», aqui utilizado, significa «levar em conta», «pôr na conta de». Pois se os pecados não forem imputados à alma, isso significa que seus efeitos deletérios não poderão prejudicá-la. Isso não significa que os resultados derivados do pecado sejam removidos.
Porquanto haveremos de colher aquilo que tivermos semeado, embora sejamos perdoados, do mesmo modo que o assassínio e o adultério de Davi lhe foram perdoados, mas mesmo assim teve ele de sofrer as consequências de seus pecados. Pois o pecado macula, e não há como evitar essa mácula, ainda que a alma escape da punição merecida.
OBS: “A RESTAURAÇÃO DA PAZ. Embora o resultado da queda fosse a destruição da paz e do bem-estar para a raça humana, e até mesmo para a totalidade do mundo criado, Deus planejou a restauração do shalom; logo, a história da reconquista da paz é a história da redenção em Cristo.
(1) Tendo em vista que Satanás deu início à destruição da paz no mundo, o restabelecimento da paz deve envolver a destruição de Satanás e do seu poder. Por isso, muitas promessas do AT a respeito da vinda do Messias era promessas da vitória e paz vindouras. Davi profetizou que o Filho de Deus governaria as nações (Sl 2.8,9; cf. Ap 2.26,27; 19.15). Isaías vaticinou que o Messias reinaria como o Príncipe da Paz (Is 9.6). Ezequiel predisse que o novo concerto que Deus se propôs estabelecer através do Messias seria um concerto de paz (Ez 34.25; 37.26). E Miqueias, ao profetizar o nascimento em Belém do rei vindouro, declarou: ‘E este será a nossa paz’ (Mq 5.5).
(2) Por ocasião do nascimento de Jesus, os anjos proclamaram que a paz de Deus acabara de chegar à terra (Lc 2.14). O próprio Jesus veio para destruir as obras do diabo (1Jo 3.8) e para romper todas as barreiras de conflito que tomasse parte da vida a fim de fazer a paz (Ef 2.12-17). Jesus deu aos discípulos a sua paz como herança perpétua antes de ir à cruz (Jo 4.27; 16.33). Mediante a sua morte e ressurreição, Jesus desarmou os principados e potestades hostis, e assim possibilitou a paz (Cl 1.20; 2.14,15; cf. Is 53.4,5). Por isso, quando se crê em Jesus Cristo, se é justificado mediante a fé e se tem paz com Deus (Rm 5.1). A mensagem que os cristãos proclamam são as boas-novas da paz (At 10.36; cf. Is 52.7)” (STAMPS, Donald (Ed.). Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 2002, pp.1120,1121).
2 – O ministério da reconciliação.
Reconciliando consigo o mundo, II Co 5:19. Não encontramos aqui uma expiação limitada. O mundo inteiro esta em foco, e não meramente os eleitos. Pois o mundo inteiro é o objeto da reconciliação, embora isso só se torne eficaz no caso daqueles que confiam em Cristo.
A misericórdia de Deus se prolonga até o próprio hades, produzindo ali a confiança na missão terrena de Cristo, porém, até mesmo ali qualquer benefício só poderá ser obtido se houver fé como reação favorável à sua mensagem. Em qualquer nível ou esfera, em qualquer período da existência, assim deve suceder. (Ver o trecho de I Jo 2:2). Confiou a palavra de reconciliação. Comentou Alford (in loc), sobre essas palavras: «Observemos que a reconciliação aqui, aludida, vem de Deus para nós, de modo absoluto e objetivo, por meio do seu Filho, e que assim Deus pode contemplar e tolerar complacentemente um mundo pecaminoso, recebendo todos os que se aproximam dele em Cristo».
A outorga do ministério de reconciliação poderia ter sido feita aos anjos ou a outros seres (talvez desconhecidos de nós). Porém, foi entregue ao humilde homem, de tal maneira que, em amor, um ser humano pode ajudar a outro. Isso agradou a Deus, porquanto isso deu aos homens a oportunidade de viverem segundo a lei do amor, que é a prova mesma da espiritualidade (ver I Jo 4:7). Ouso dizer, entretanto, que essa missão não foi proporcionada exclusivamente ao homem. Elevadíssimas forças estão envolvidas no uso de homens como agentes, os quais (mui provavelmente), operam por si mesmos.
Fatores principais da Reconciliação
1 – A reconciliação é um ato de Deus. Ele é quem toma a iniciativa, e ele é quem leva essa obra ao seu final determinado. A reconciliação diz respeito à hostilidade que havia entre Deus e o homem, por causa do pecado, produzindo o estado de Paz.
2 – O objeto da reconciliação é o homem. Por causa de seu pecado, o homem ficara alienado, provocando a desordem no universo moral. O homem desafiou o propósito divino da vida. O fato de que éramos inimigos descreve tanto a «atitude» dos homens no que respeita a Deus como a sua natureza básica como pecadores.
3 – Transporta os homens do estado de inimizade para o estado de amizade. Devemos consultar sobre esse particular o primeiro capítulo da epístola aos Colossenses. Essa amizade envolve a participação em seus propósitos universais, bem como a realização dos mesmos em nós.
4 – A reconciliação também envolve uma calorosa experiência humana, porque prove o mais eficaz antídoto para o impessoalismo árido em nossos pensamentos religiosos. Livra-nos da irrealidade para um mundo de experiências, onde o fator decisivo é que Deus mostra o seu amor para conosco, reconciliando-nos consigo mesmo. Jesus Cristo é o agente que produz a paz, através do sangue de sua cruz. (Ver Cl 1:20). Estabelecer essa paz, portanto, consiste em uma atividade moral operada por uma pessoa, sobre as pessoas.5. O meio eficaz da reconciliação é a morte de Jesus Cristo, o grande ato da misericórdia divina para com os homens. O contexto da grande passagem sobre a reconciliação, no quinto capítulo da segunda epístola aos Coríntios, deixa claro que Paulo considerava a reconciliação como algo que é alicerçado na morte e na ressurreição de Cristo, e o primeiro capítulo da epístola aos Colossenses e o segundo capítulo da epístola aos Efésios foram vazados em palavras tais que não deixam margem alguma para dúvida, no tocante à intimidade da conexão entre o propósito de Deus e a cruz de Cristo, como meio por ele escolhido para efetuar a reconciliação.
5 – Reconciliar é devolver a unidade, a harmonia, a tudo aquilo que antes era alienado. Segundo a Bíblia há necessidade de reconciliação entre Deus e o homem, visto que a alienação entre eles é a fonte do pecado humano e a aversão do mesmo à retidão divina. Deus mesmo proveu o meio para a reconciliação, mediante a morte de Seu Filho, Jesus Cristo.
OBS: “A paz e a unidade entre judeus e gentios exigia que ambos fossem reconciliados ‘pela cruz… com Deus em um corpo’ (2.16). Isso pressupõe que tanto judeus como gentios eram pecadores separados de Deus (2.3) e necessitavam da morte expiatória de Cristo a fim de serem reconciliados com Deus (2.17,18). Sua ‘inimizade’ (2.16), que foi condenada à morte na cruz, era tanto horizontal como vertical – isto é, uma hostilidade entre povos não regenerados e Deus (Rm 5.10), e entre grupos hostis, tais como judeus e gentios. O milagre da reconciliação resultou em uma nova entidade espiritual chamada ‘um corpo’ de Cristo (2.16). Esse assunto tornar-se o foco de Paulo 2.19-22” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Volume 2. RJ: CPAD, 2017, pp.417,418).
Sentido Bíblico da Reconciliação
1 – O termo «reconciliação» (no grego, katallage) aparece por quatro vezes no N.T. Por três vezes é usado para indicar a reconciliação entre Deus e o homem (Rm 5:11; II Cr 5:18,19), e uma vez para indicar a reconciliação da linhagem do pacto com o mundo, com a rejeição temporária do povo judeu (Rm 11:15). Uma forma intensiva também é usada, com a preposição prefixada apó, dando a entender «reconciliar plenamente» (Ef 2:16; Cl 1:20,21).
2 – Quando a reconciliação tem seu pleno sentido bíblico de salvação, a alienação que ela remove aparece como resultado do pecado (Is 59:12). Isso transparece em II Co5:19, onde a reconciliação é vinculada a Deus, não imputando ele as transgressões. Em mais de um trecho das epístolas paulinas a reconciliação aparece como paralelo e equivalente da justificação (Rm 5:9,10; II Co 3:9; 5:18). Isso porque o meio da reconciliação é a morte de Cristo (Rm 5:10). O propósito de sua morte foi aexpiação. A morte de Cristo e a imputação de sua retidão ao pecador é a base da remoção da alienação entre Deus e o homem, a culpa do pecado.
3 – A «reconciliação», porém, tem um sentido mais lato que a «justificação». A palavra grega katallage deriva-se das atividades sócio-econômicas (cf. I Co 7:11). Alude de modo geral à eliminação de uma inimizade, sem especificar como ela foi removida. Nos escritos de Paulo, o termo grego, com frequência, é contrastado com «inimizade» e «alienação» (Rm 5:10; Ef 2:14 s; Cl 1:22). No sentido positivo, tem o sentido de «paz» (Rm 5:1,10; Ef 2:15s; Cl 1:20 s).
No sentido bíblico, «paz» é o termo inclusivo que se refere à restauração da comunhão entre Deus e o homem. Por isso, Paulo pôde exultar, dizendo: «Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo» (Rm 5:1).
A Bíblia ensina que a paz é produto da morte de Cristo. Somos reconciliados em sua carne, mediante a morte (Cl 1:22): O trecho de Rm 5:10 alude a termos sido reconciliados mediante a morte de Cristo. Cl 1:20 diz que Deus estabeleceu a paz através do sangue da cruz de Cristo. O termo «reconciliação» também é usado para indicar a inclusão dos gentios na linhagem do pacto (Rm 11:15). Nesse trecho se fazem presentes os sinais característicos da reconciliação. Paulo diz sobre os gentios que eles estavam sem Cristo, estranhos a Israel, afastados do pacto da promessa.
Cristo nos trouxe a paz, pregou a paz e é a nossa paz. Ele uniu judeus e gentios, que na Igreja tornam-se uma única comunidade. Nesse sentido, destaca-se a abolição da distinção de judeus e gentios, uma vez que estejam em Cristo. No entanto, o que os separava era a lei. Esta, que era a razão da inimizade, foi eliminada, e a paz foi assim estabelecida entre esses dois povos (Ef 2:16). Esse e outros elementos da reconciliação devem ser vistos contra o pano de fundo do propósito todo abrangente de Deus, de reconciliar todas as coisas Consigo mesmo, através de Cristo (Cl 1:20 s).
Isso indica o vasto escopo da idéia de reconciliação. Tendo estabelecido a paz mediante o sangue de Cristo, Deus tem o grandioso propósito de reconciliar Consigo mesmo todas as coisas, no céu e na terra. Assim, é possível falar do evangelho da salvação, em seu escopo mais amplo, como o «ministério da reconciliação». O evangelho conclama os pecadores a se reconciliarem com Deus (II Co 5:20).
OBS: ARGUMENTO TEOLÓGICO – A doutrina da reconciliação enfoca a alienação do homem de Deus, em face do pecado, bem como a provisão divina para a restauração do homem ao seu favor. No seu sentido mais amplo, a reconciliação diz respeito à renovação daquilo que se interpõe entre Deus e o mundo, no mais inclusivo sentido da palavra «mundo». Está em foco até mesmo a reconciliação final de todas as coisas em Cristo, ao Pai, no último dia, que a Bíblia chama de «restauração».
Deus estava reconciliando consigo o mundo, em Cristo. E os homens são exortados a se reconciliarem com Deus. «…Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo… Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus…» (II Co 6:19,20). Um aspecto anterior da reconciliação, preparativo para a mesma, é o da propiciação, referida em I Jo 2:2 e 4:10. Ali é usado o termo grego hilasmós, tradução de um termo hebraico que significa «cobrir». Deus se tornou propício a perdoar os pecados de todos «…ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro» (diz a primeira dessas passagens). Deus reconcilia-se com os que se arrependem e creem.
Segundo lemos na Bíblia com muitas provas, só se arrependem e creem os eleitos; os demais são endurecidos, e rejeitam a oferta de reconciliação em Cristo, «…creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna» (At 13:48). Sob a influência de pensadores como Soren Kierkegaard e Karl Marx, a ideia de alienação se tem tornado um dos temas centrais da filosofia, da teologia e da literatura contemporâneas. Mas eles só concebem uma reconciliação secularizada, em que o indivíduo se reconcilia com sua própria natureza. A doutrina bíblica, entretanto, reconhece a necessidade do homem reconciliar-se com Deus, em face da alienação produzida pelo pecado, possibilitada pela expiação que há no sangue de Cristo.
Conclusão
Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo mesmo. Essa é a boa nova do Evangelho que tem sua consumação no Calvário por meio da obra de Cristo. Essa verdade nos mostra que, se outrora o pecador estava numa situação caótica, desoladora e perdida; agora sua condição mudou por causa da obra de Cristo no Calvário.
Nele, somos instados a propagar o ministério da reconciliação a todos os homens. Somos embaixadores da parte de Cristo e precisamos conclamar aos seres humanos que se arrependam de seus pecados e sejam reconciliados com Deus. Como educadores cristãos, é o nosso desafio incutir nos alunos tal necessidade.