Os gigantes da Fé o seu Legado para a Igreja
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11.1).
TEXTO BÍBLICO Hebreus 11.1-8, 22- 26,30 – 34
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ToggleConceito de Fé
No Novo Testamento o verbo pisteuõ (creio, confio) e o substantivo pistis (fé) ocorrem 480 vezes. Poucas vezes o substantivo reflete a ideia da fidelidade como no Antigo Testamento (por exemplo, Mt 23.23; Rm 3.3; Gl 5.22; Tt 2.10; Ap 13.10).
Pelo contrário, normalmente funciona como um termo técnico, usado quase exclusivamente para se referir à confiança ilimitada (com obediência e total dependência) em Deus (Rm 4.24), em Cristo (At 16.31), no Evangelho (Mc 1.15) ou no nome de Cristo (Jo 1.12)”. Para conhecer mais leia “Teologia Sistemática. Uma Perspectiva Pentecostal, CPAD, pp.369-70.
O escritor sacro não pretendeu simplesmente definir a fé, mas sim descrevê-la como elemento fundamental da vida cristã.
O firme fundamento.
Fundamento aqui significa muito mais que a mera certeza humana, fruto da lógica, ou do exercício da futurologia. Na visão cristã, tem o sentido de certeza inabalável, ou seja, temos convicção de que servimos a um Deus onipotente, onisciente e onipresente, que vela por sua Palavra para a cumprir (cf. Jr 1.12; Is 43.13).
Significa também certeza absoluta a respeito da nossa salvação. Ver 1 Jo 3.2. Assim, a certeza é o primeiro elemento essencial da verdadeira fé, isto é, “a fé que é por Ele” (At 3.16).
Das coisas que se esperam.
“A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam…”. O segundo elemento essencial da fé é a esperança. Esta é consubstanciada na forte convicção de que aquilo que se espera da parte de Deus há de acontecer sempre, independente das circunstâncias.
Abraão creu que teria um filho segundo a promessa divina, fruto de sua união com Sara, mesmo quando a lógica humana dissesse o contrário.
A prova das coisas que não se veem.
A “prova” tem o significado de “convicção”, que é o terceiro elemento da fé. Aqui temos um ponto muito importante a considerar. Pessoas há que manipulam este texto para justificar a prática mística do que eles chamam de visualização mental para obtenção do que se deseja.
Nesse meio estão certas ramificações da Confissão Positiva. Tal prática não tem apoio nas Escrituras Sagradas. No contexto do capítulo 11 de Hebreus, “as coisas que não se veem” são as coisas de Deus, “os bens futuros” (Hb 9.11), “as melhores promessas” (Hb 8.6).
Isso porque tais “coisas” foram prometidas por Deus em sua Palavra, e esta não pode falhar em nenhuma hipótese. Há “crentes” que, iludidos pelo seu próprio coração, asseveram que podem aplicar esse texto (v.1) a qualquer coisa.
Por exemplo: “eu creio que Deus vai me dar um carro novo, e uma bela casa”. Ora, isso é um desejo, mas não uma promessa de Deus. Pode tornar-se real ou não. É algo condicional e circunstancial.
Argumento Bibliológico
“Encorajamento palas vitórias da fé (Cap.11). O autor, neste capítulo, destaca a fé como sendo a grande característica e o denominador comum do verdadeiro povo de Deus em todos os tempos (cf. 10.38,39).
Ele menciona detalhadamente os heróis da fé que viviam sob a antiga aliança e cujos exemplos nos incentivam a sermos leais a Deus, hoje.
O versículo 1 é muitas vezes citado como uma definição de fé, porém, na realidade é mais uma explicação das características da fé.
Em poucas palavras, a fé é simplesmente confiança em Deus e sua palavra (cf. Rm 10.17). Parafraseando o versículo, poderíamos dizer: ‘A fé significa que somos confiantes; temos a certeza (algo que serve de base ou apoio a qualquer coisa, como um alicerce, um fundamento, uma promessa ou um contrato) daquilo quer esperamos receber, a convicção da realidade das coisas invisíveis’.
Foi com essa atitude de fé que, naquele tempo, os heróis enfrentaram o futuro e aprenderam as coisas invisíveis.
Os antigos alcançaram testemunho e o próprio Deus também testificou da fé que possuíam, a qual superou todos os obstáculos, sendo seus feitos registrados na Bíblia como homens de fé (v.2).
A crença em Deus como Criador de todas as coisas do universo é imprescindível para a vida de fé, qualquer que seja sua manifestação (v.3).
Por isso, em primeiro lugar, o autor declara essa ação primária da fé, pela qual chegamos à plena certeza de que o mundo – a História e as eras – não resultou do acaso; é uma resposta à expressão da vontade de Deus (Westcott)” (Comentário Bíblico – Hebreus, CPAD, pág.158).
“Creia que ele existe (Hb 11.6).
Este versículo descreve as convicções integrantes da fé salvífica.
(1) devemos crer na existência de um Deus pessoal, infinito e santo, que tem cuidado de nós.
(2) Devemos crer que Ele nos galardoará quando o buscarmos com sinceridade, sabendo que nosso maior galardão é a alegria e a presença do próprio Deus. Ele é nosso escudo e nossa grande recompensa (Gn 15.1; Dt 4.29; Mt 7.7,8 nota; Jo 14.21 nota).
(3) Devemos buscar a Deus com diligência e desejar ansiosamente a sua presença e graça” (Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, pág.1916.).
Exemplos marcantes de Fé
Abel
Foi exemplo de fé sacrificial. A Bíblia não diz em Gênesis 4 por que Deus aceitou seu sacrifício e não o de seu irmão, o homicida Caim.
Mas em Hebreus 11.4 podemos constatar o final da história: enquanto a oferta de Abel foi movida pela fé em Deus (ver Jd v.11), Caim trilhou seu “caminho” sem fé.
A ideia de que a oferta de Abel foi aceita por tratar-se de oferta com sangue (apontava para o sacrifício de Cristo) apesar de correta, é parcial, uma vez que a oblação de Caim, mesmo sendo de vegetais, também seria aceita por ser produto do seu trabalho como lavrador (Gn 4.3; ver v.7).
Caim tinha má índole; era iracundo e “suas obras eram más” (1 Jo 3.12), por essas razões suas ofertas não foram aceitas pelo Senhor.
Três coisas são mencionadas a respeito da fé de Abel:
(1) Ele é elogiado por ser um adorador de Deus.
A Escritura somente diz que pela fé, Abel ofereceu a Deus maior [melhor] sacrifício do que Caim, porque o sacrifício de Abel era uma expressão de adoração que envolvia toda a sua vida e fé. Apresentou toda a sua fé a Deus, não manteve qualquer reserva. Isto representou total devoção ao Senhor, não simplesmente uma cerimônia religiosa. Pela fé adentrou a mais profunda realidade espiritual e interior do sacrifício ao Deus invisível.
(2) Alcançou testemunho de que era justo’, Caim não era justo; Deus lhe disse que sua oferta somente seria aceitável se fizesse o que era certo (Gn 4.3-7)
Deus rejeitou a adoração de Caim porque seu coração não era justo, Abel, por outro lado, demonstra a íntima relação entre a retidão e a fé em 10.38. Sua adoração agradou a Deus porque vivia e agia fé como um homem justo.
(3) Foi mencionado por seu testemunho.
Abel morreu como o primeiro mártir profético da história (Lc 11.50,51); seu testemunho duradouro passou por sucessivas gerações e continua a falar da vida de fé que agrada a Deus, como homem fiel que adora a Deus de todo o seu coração (ARRINCTON, Frenth L; STRONSTAD, Roger (Ed.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, 2.ed. Rio de Janeiro; CPAD, 2004, p. 1012).
Enoque
Exemplo de fé agradável. O pouco que a Bíblia fala sobre esse homem de Deus encerra a grandeza de seu caráter e de sua fé: “E andou Enoque com Deus; e não se viu mais, porquanto Deus para si o tomou” (Gn 5.24).
Se ele “andou com Deus”, ou seja, viveu em íntima comunhão com o Eterno e no centro da sua vontade, diante da extrema incredulidade de seu tempo, foi porque tinha uma fé viva, que via o mundo melhor.
Por isso, ainda na terra, antes da sua trasladação, “alcançou testemunho de que agradara a Deus”. Sem fé não agradamos a Deus (Hb 11.6).
Noé
Exemplo de fé obediente e justa. Nunca ouvira falar de dilúvio, todavia, “divinamente avisado das coisas que não se viam, temeu” e obedeceu, preparando uma arca “para salvação da sua família”.
Noé foi o primeiro homem na Bíblia a ser chamado justo. Isso nos traz uma lição de extremo valor: o homem de fé precisa ser justo diante de Deus e dos homens.
Abraão
É considerado o pai da fé provada. Quando foi chamado por Deus, sequer imaginava para onde iria (v.8). Passou anos habitando em tendas, peregrinando “como em terra alheia” (v.9) e recebeu a promessa de que seria “uma grande nação” (Gn 12.2).
O Todo-Poderoso mandou que ele olhasse para os céus e contasse as estrelas, se pudesse, dizendo que assim seria sua semente: “e creu ele no Senhor e foi-lhe imputado isto por justiça”.
Mais tarde Deus pediu-lhe em sacrifício seu único filho, Isaque. Sem relutar, o grande patriarca obedeceu piamente à voz do Altíssimo, crendo “que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar” (vv.17,18). O Deus de Abraão é o nosso Deus. Ele é fiel em cumprir sua palavra (cf. Jr 1.12).
Obs.: Fé no período patriarcal (11. 8-22).
O período patriarcal do Antigo Testamento se estende de Abraão a José. Abraão é como o centro das atenções; somente um verso é dedicado a Isaque (v. 20), Jacó (v. 21) e José (v, 22).
Isto é compreensível já que Abraão, o homem de fé por excelência no Antigo Testamento, desempenha um papel central no princípio da história hebraica e na obra do plano de salvação de Deus.
No Novo Testamento, Abraão é mencionado mais extensivamente do que qualquer outra figura do Antigo Testamento. Aqui em Hebreus 11, três principais episódios da vida de Abraão são mencionados para ilustrar três importantes faces de sua jornada de fé.
1) Ao obedecer ao chamado de Deus para partir de Ur dos Caldeus para uma terra prometida desconhecida, Abraão demonstrou fé no futuro não visto (11.8-10).
2) Durante longos anos de espera pelo filho e descendentes prometidos em circunstâncias humanamente impossíveis, Abraão demonstrou fé na promessa impossível (11.11,12).
3) Quando Deus pediu que sacrificasse Isaque (seu único filho da promessa). Abraão demonstrou fé em meio à prova ou ao teste severo (11.17-19). Atém destes modos em que a fé está poderosamente ilustrada, um parêntese em 11.13-16 chama a atenção para uma linha comum de fé que percorre a vida de Abraão e dos outros patriarcas (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Ed.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 1614).
Raabe
Pela fé, Raabe, a meretriz, e sua família foram poupadas durante a destruição de Jericó (11.31: Js 6.23). Com exerção de Sara (Hb 11.11), Raabe é a única mulher mencionada pelo nome, na lista dos heróis da fé em Hebreus 11.
Sua fé é revelada por ter acolhido e ocultado dois espiais enviados por Josué a Jericó antes da conquista. É também evidente em sua confissão — ‘Bern sei que o Senhor vos deu esta terra’ (Js 2.9) — uma fé baseada naquilo que ouviu e creu sobre o relatório do milagroso Êxodo de Israel do Egito, e das vitórias de Israel a leste do Jordão, antes de rodearem Jericó (Js 2.10-13).
‘Pela fé’ ela creu que o Deus de Israel era o Deus do céu e da terra. Além disso, Raabe demonstrou sua fé arriscando o ‘presente por causa da perseverança futura.
Deste modo, quando Jericó foi conquistada e seus habitantes destruídos, Raabe não pereceu com os incrédulos’ (isto é, os desobedientes da cidade).
Raabe foi poupada — uma mulher gentílica, prostituta secular, pecadora contumaz — este é um clássico exemplo, no Antigo Testamento pelo fato de Deus ser rico em misericórdia e abundante em graça, é salva pela graça através da fé (cf, Ef 2.3-9) (ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Ed.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, pp. 1624,25).
Viram as promessas de longe
Todos estes morreram na fé.
Após destacar os quatro primeiros heróis da fé, o escritor declara que eles morreram na fé, “sem terem recebido as promessas, mas, vendo-as de longe…”. Como Paulo, combateram o bom combate, acabaram a carreira e guardaram a fé (2 Tm 4.7).
Viram as promessas de longe.
Era a fé fazendo-os olhar para o horizonte ao longe, sem chegar lá, porém contemplando o cumprimento das promessas. Certamente eles usufruíam a salvação em Cristo porque criam na vida eterna, na entrada nos céus, na vitória sobre o mal e, sobretudo, no reinado eterno de Deus.
Crendo nas promessas, abraçando-as e confessando-as (v.13).
A fé daqueles homens era tão forte e poderosa que, mesmo sem verem o cumprimento das promessas de Deus, nelas creram e as abraçaram (cf. v.1).
Eles consideravam-se “estrangeiros e peregrinos na terra”, porque esperavam uma pátria melhor, definitiva, no futuro, sendo aclamados por Deus, “porque já lhes preparou uma cidade” (vv.13-16).
Homens dos quais o Mundo não era digno
Na última parte do texto em estudo, a Palavra de Deus fala de forma comovente sobre dois tipos de heróis da fé. São eles:
Os lutadores.
As Escrituras apresentam vários exemplos de lutadores. Eles “venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, neutralizaram a força do fogo, escaparam do fio da espada”, tudo isso pela fé no Todo-Poderoso.
Os martirizados.
Foram os que, na luta pela fé, foram açoitados, apedrejados, presos, aflitos, torturados e mortos: “não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição” (vv.35-37). A história da Igreja registra outros grandiosos exemplos de fé e coragem entre os mártires do cristianismo.
Foram homens “dos quais o mundo não era digno”.
O “mundo” que não é digno dos homens de Deus é aquele que se opõe ao bem, e que dificulta a inquirição espiritual. Foi para esse mundo que Jesus apontou ao falar sobre a inevitabilidade das perseguições: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim” (Jo 15.18).
Os homens dos quais o mundo não era digno viram de longe as promessas, mas não as alcançaram, “provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados” (vv.39,40).
Conclusão
Hoje para muitos, principalmente crianças e adolescentes que não conhecem a Deus, os Gigantes (heróis) são os ídolos humanos ou virtuais da TV e do cinema. Esses não passam de falsos ídolos e heróis que desencaminham seus admiradores para o mal.
Contudo, a Bíblia nos inspira fé e perseverança, necessárias para que confiemos nas promessas de Deus. Ela nos mostra em suas páginas a vida de homens e mulheres, crianças e adolescentes, jovens e adultos, que nos legaram exemplos extraordinários da verdadeira fé em Deus.